D'APRÈS Um Vicente, algures entre LISBOA - LONDRES - XANGAI - BRUXELAS

sábado, fevereiro 26

Brrrrrr!!!




terça-feira, fevereiro 22

Premier League III - the London Connection

Estimados pichichis,


E para terminar a triologia de posts sobre a Premier League inglesa, segue-se o "report" das visitas que andei a fazer às zonas onde se localizam os estádios dos principais clubes de Londres. Só não vou escrever nada sobre o Chelsea porque já o fiz há uns tempos atrás (vejam
post anterior), e os tipos também já têm publicidade suficiente por estes dias!

Para começar o melhor é descrever numas pinceladas a organização da cidade.

No mapa abaixo podem ver a divisão em 33 boroughs da Área Metropolitana de Londres (Greater London). Este conjunto é gerido pelo Mayor de Londres (que é eleito pela população), que preside à Greater London Authority a partir do edifício da London City Hall (o que fica colado à Tower Bridge, ver post anterior).

Pergunto-me se este tipo de organização já existe nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, ou irá existir em breve? Acho que não (pelo menos que eu saiba não há nenhum Mayor de Lisboa ou Porto, quando muito presidentes de junta metropolitana...), mas quem souber responder por favor comente, até porque acho que o exemplo britânico (que é um tanto ou quanto complexo...) pode servir para o debate sobre a REGIONALIZAÇÃO que já foi feito, e com certeza voltará a sê-lo num futuro próximo no nosso MARABILHUOSO país (já que as ideias do PSD parece que não chegaram a concretizar-se).

Para ter uma explicação dos diferentes tipos de divisões administrativas no território inglês (já que Londres é um caso particular no contexto do país), e comparar com o caso Português, vejam o seguinte site!


Voltando aos borough, cada um deles é gerido pelo seu council eleito (organismo administrativo, equivalente a câmara municipal), excepto a City of London (a zona financeira, nº1 no mapa, onde ficam localizadas as sedes de muitos bancos e empresas, incluindo o Banco de Inglaterra) que é um borough especial gerido por uma instituição não eleita democraticamente denominada Corporation of London, e tem uma autonomia quase total em relação ao resto da cidade (é quase como se fosse território independente com leis e instituições próprias).

A área da Grande Londres (os 33 boroughs) divide-se em 2 zonas distintas:

1 - As áreas numeradas de 1 a 13, o Inner London, cujos boroughs se subdividem em unidades mais pequenas chamadas districts, cada qual com um código postal. O Centro de Londres propriamente dito (a zona mais turística, onde se localizam a maior parte dos monumentos mais conhecidos) corresponde à área sujeita a uma taxa de entrada nos dias de semana para quem quer vir de pópó, a congestion charge. Esta área central corresponde aos boroughs da City of London e City of Westminster (totalidade), parte sul dos de Islington e Camden, e uma pequena parte norte dos de Lambeth e Southwark.

2 - Todas as outras áreas fora do Inner London fazem parte dos arredores ou subúrbios, o Outer London. Nestes arredores as zonas Oeste e Sul são, de um modo geral, onde se vive melhor (especialmente nos boroughs "com vista para o Tamisa" - Richmond, Kingston, e também Merton que inclui Wimbledon). Nas zonas Norte e Leste há mais pobreza.

Se tiverem paciência dêem também uma vista de olhos no seguinte mapa para terem uma ideia de sub-divisões dos boroughs!


Eu e a Lu vivemos em Hanworth, na parte ocidental do borough de Hounslow (em baixo, à esquerda), onde também se localiza o aeroporto de Heathrow (o de Gatwick já fica fora da Grande Londres, no condado de Surrey a sul).

Abaixo seguem relatos e fotos das minhas visitas aos seguintes clubes londrinos: Arsenal, Tottenham, Fulham, Charlton, Crystal Palace e West Ham.


Arsenal

O estádio fica localizado na zona de Highbury, no norte de Inner London (
borough de Islington). Pelo que me pareceu é zona relativamente pobre, de classe trabalhadora. O estádio não tem qualquer espaço livre a rodeá-lo, fica encaixado entre casas e prédios residenciais mas é, a par com o do West Ham, o maior dos clubes de Londres. Esteticamente só me deu vontade de rir, parece um quartel dos bombeiros gigante (até tem mangueiras vermelhas enroladas na parede da entrada principal).

Não sei de onde vem o nome Arsenal, mas o símbolo do clube é um canhão. Sempre me perguntei qual a relação entre o nosso Braga e este clube, já que sempre ouvi chamar "arsenalistas" aos jogadores do Braga. Se calhar é só mesmo a camisola...

Hoje em dia não há dúvida que é dos clubes ingleses mais ricos, é só olhar para a equipa principal com o Henry e o resto da legião francesa. Os financiadores não são conhecidos, pelo menos para mim.


Tottenham Hotspur

O clube dos judeus. É também dos clubes ingleses com mais carcanhol, certamente derivado da etnia que o apoia. O Postiga jogou (pouco) lá o ano passado e este ano é a vez do Pedro Mendes, que está a fazer óptima época. A equipa é meio irregular, tipicamente de meio da tabela, embora tenha alguns bons jogadores no ataque (Keane, Defoe...). O estádio é todo azul e branco, bem como o equipamento dos jogadores (o que também remete para as cores da bandeira de
Israel), e o símbolo parece ser uma galinhola (?!). De acordo com o dicionário Hotspur é uma pessoa impetuosa ou violenta, e o lema do clube é uma frase em latim "Audere est facere" (alguém sabe o que quer dizer?).

O estádio, relativamente grande, fica localizado numa das zonas mais pobres de Londres, Tottenham (borough de Haringey, no Outer London perto do limite norte da cidade), onde há uma grande concentração de turcos/curdos e de caraibenhos e africanos. Nota-se nas ruas, fachadas das casas e dos estabelecimentos comerciais que há uma certa pobreza (decididamente não é uma zona turística), que não é nada comum nas zonas sul e oeste onde passo a maior parte do tempo.


Fulham

O estádio destes tipos chama-se "Craven Cottage" (casa do corvo) e tem a localização mais bonita de todos os que visitei (deve ser o equivalente ao Belenenses em Lisboa) - na zona de Fulham (
borough de Hammersmith & Fulham), com o Tamisa num dos lados e um parque público a rodeá-lo. O que sobra em localização e paisagem falta em dimensão e estética! Para ser simpático, é um estádio muito pouco impressionante, é provavelmente o mais pequeno dos clubes de Londres e tem um ar deteriorado. A fachada principal também tem um bocado ar de "Campo Pequeno".

O dono do clube é o Al-Fayed, o mesmo do Harrod's, e o português que joga aqui é o Luis Boa Morte que é considerado a estrela da companhia. O bairro é óptimo, dos mais ricos de Londres juntamente com Chelsea e Kensington (fica no chamado west end, zona oeste do centro de Londres, em oposição ao pobre east end), e tem os habitantes mais gastadores da cidade (que o diga a loja do Dr. China lá...). Outro dia saíram umas estatísticas dizendo que os adeptos do Fulham são os que gastam mais dinheiro em merchandising da Premier, à frente do Chelsea e Manchester! Fulham e Chelsea são os dois únicos clubes da zona oeste da cidade nas primeiras divisões (talvez o Queen's Park Rangers também), e têm a imagem de clubes dos adeptos ricos em oposição ao Arsenal ou Tottenham.


Charlton

Este estádio também fica muito perto do Tamisa (a sul do rio) mas do lado oposto da cidade, extremidade sudoeste do Inner London (
borough de Greenwich), e parte leste da Grande Londres. É uma zona muito industrial, onde o rio é muito mais largo e bastante poluído. Fica aqui localizada a "famosa" Barreira de Cheias do Tamisa (obra de engenharia impressionante que impede as inundações que eram frequentes no passado, a última em 1953, e causavam muitas mortes), bem como a maior refinaria de açúcar do Mundo (6ª foto), pertencente à empresa Tate & Lyle (a mesma dos museus Tate, o Lyle não deve ter um espírito tão benemérito...).

O bairro à volta do estádio parece tipicamente de classes médias baixas, embora o dito estádio seja relativamente novo e com bom aspecto.

A equipa é fraca, não tem jogadores muito interessantes (é mais para a porrada) mas deve-se aguentar na Premier este ano. E não há muito mais a dizer a não ser que foi o clube onde o Jorge Costa jogou quando o Octávio o pôs no exílio há 3 anos atrás.


Crystal Palace

A zona onde este estádio fica localizado chama-se Selhurst. Fica na extremidade sul da área metropolitana de Londres (
borough de Croydon), numa zona com muito pouco que se lhe diga (parecida com a do Charlton). Bairro feio, meio degradado e o estádio também tem fraco aspecto embora de dimensão razoável. A equipa, apesar do nome que sugere uma certa elegância e estilo, é uma bela bosta! Também seguem o estilo "porrada da grossa" e, apesar de se manterem este ano na Premier, não dava 1 pence para ir ver os jogos deles. O Wimbledon, outro clube de Londres agora perdido nas divisões secundárias, também joga neste mesmo estádio.

O nome do clube (e da zona) vem do facto de ter sido ali perto (no actual Crystal Palace Park) o local de uma exposição mundial organizada em 1851, no auge do domínio do império britânico e do reinado da rainha Vitória. A exposição foi a maior jamais feita até à data e contava com animais, plantas, tradições, arte e pessoas de todos os cantos do mundo (onde os ingleses dominavam, claro). Para o efeito construiu-se uma gigantesca estrutura de vidro (não era cristal, não) que foi desmontada depois do fim da exposição, pelo que hoje não há nada no local para além de um parque e de um complexo desportivo tipo Jamor, mas mais pequeno. Penso que seja daqui que vem o "famoso" Palácio de Cristal do Porto, e também as ideias para a Exposição do Mundo Português em Lisboa (em 1940, se não me engano) e um equivalente espanhol em Sevilha (em 1929).


West Ham

O Presunto Ocidental! É o maior clube do East End (leste de Londres, a norte do Tamisa, que compreende os boroughs de Hackney, Newham e Tower Hamlets), apesar de se chamar West Ham, e fica localizado numa das zonas mais pobres de Londres (
borough de Newham), já no Outer London. Praticamente não vi ingleses ou europeus nesta zona, a concentração de lojas de imigrantes é impressionante. Noutro post escrevo mais sobre esta zona!

O estádio foi o maior e o mais imponente de todos os que visitei, o que é estranho dado o clube não estar na Premier e se localizar num bairro modesto. Foi neste clube que jogou essa grande estrela portuguesa que dava pelo nome de Dani, que agora está a tirar o curso de actor em Nova Iorque.


Depois desta "pesquisa" futebolística e geográfica, posso afirmar em jeito de conclusão que nenhum dos estádios dos clubes londrinos tem comparação com o do Sporting ou do Benfica (o do FCP ou do Braga não visitei), quer em dimensão quer em estética (gozem o que quiserem com as cores do Alvaláxia. Perto do gosto que encontro aqui a decoração do estádio do Sporting é uma obra do Van Gogh!!). Se calhar são mais espertos, não desperdiçam muito dinheiro com infraestruturas (apesar do Arsenal e Chelsea estarem a construir estádios novos) e podem investir em bons jogadores. Mas pelo dinheiro de bilhetes que cobram esperava que dessem melhores condições...
Por outro lado é curioso 5 dos principais clubes da cidade se localizarem em zonas desfavorecidas e 2 deles terem estádios relativamente grandes para a dimensão dos clubes (Charlton, West Ham). Deve ser com certeza para distrair as classes trabalhadoras ;)


E assim dou por terminado o assunto "futebol inglês" (para pena de alguns e descanso de outros).

Em relação ao tema "ano novo chinês", escrevi para outro blog sobre isso pelo que remeto os interessados para o seguinte link!

Até à próxima e abraços

NV

PS1: sabiam que o tempero indiano chamado "Vindaloo" vem do português "Vinha d'Alhos"???

quinta-feira, fevereiro 17

Premier League II

Olá janotas,

Continuando o assunto da semana passada, andei a fazer uma pequena pesquisa geográfica acerca da distribuição no território de Inglaterra dos 20 clubes que actuam na primeira divisão britânica (Premier League). No mapa abaixo da para ter uma ideia da divisão em
regiões do território inglês e os pontos negros no mapa marcam as cidades onde os clubes se localizam. Dentro de cada região também dá para ver as divisões dos condados ou counties, e para uma imagem mais geral de Inglaterra cliquem neste mapa da Lonely Planet.


Abaixo segue a lista dos clubes da Premier existentes em cada região, com links aos respectivos websites. Ordenei a apresentação de Norte para Sul e acrescentei alguns comentários sobre cada região, nomeadamente em relação às cidades mais importantes e características principais.

Noroeste

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Manchester United (Manchester)
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Manchester City (Manchester)
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Bolton Wanderers (Bolton)
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Liverpool FC (Liverpool)
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Everton FC (Liverpool)
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Blackburn Rovers (Blackburn)

A par com Londres, é a zona de Inglaterra com mais clubes na Premier. A zona noroeste inclui várias sub-zonas: Cumbria a norte (onde se localiza uma das atracções naturais mais interessantes de Inglaterra - o Lake District), Lancashire (inclui a mítica estância balnear de Blackpool, e também as mais pequenas towns de Blackburn e Bolton), Merseyside (cuja capital é Liverpool, que tem um porto importantíssimo e vai ser capital europeia da cultura 2008) e a área metroplitana de Manchester (terceira maior cidade britânica, e instalada numa região extremamente industrial e muito densamente povoada) a sul.


Nordeste

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Newcastle United (Newcastle upon Tyne)
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Middlesbrough FC (Middlesbrough)

É talvez a região mais remota de Inglaterra, a par com a Cornualha no sudoeste. De qualquer forma também tem a sua importância económica, principalmente a maior cidade desta região, Newcastle, que sempre teve um importante porto, estaleiro e minas de carvão. Uma das empresas mais importantes da cidade é a Scottish & Newcastle Breweries que actualmente são detentoras das nossas marcas Sagres e Luso, para além da Newcastle Brown Ale. A maior sub-zona da região costuma chamar-se Northumbria ou Northumberland, epíteto que vem dos tempos em que era a fronteira norte do Império Romano (o qual não chegava à Escócia - nos arredores de Newcastle ainda se pode encontrar partes da "Muralha de Adriano"). Outras cidades importantes, todas localizadas na costa leste, são Sunderland (que tinha um clube o ano passado na Premier), Durham e Middlesbrough, esta última com um forte dinamismo económico ligado à indústria de transformação de combustíveis.

Juntamente com a zona de
Yorkshire (onde se destacam as towns de York e Leeds, que actualmente não têm nenhum clube na Premier) as duas regiões anteriores formam a zona Norte de Inglaterra.


Midlands

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Aston Villa FC (Birmingham)
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Birmingham City FC (Birmingham)
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West Bromwich Albion (West Bromwich)
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Norwich City FC (Norwich)

As Midlands são o que se pode considerar o centro de Inglaterra. Costumam dividir-se em 3 sub-zonas: as West Midlands (chamado o Coração de Inglaterra, faz fronteira com Gales a oeste e tem por capital Birmingham, a segunda maior cidade de Inglaterra; outras towns conhecidas na região são West Bromwich, Warwick, Coventry, Stratford-upon-Avon onde nasceu o Shakespeare e Stoke-on-Trent de onde vem o Robbie Williams), as East Midlands (que incluem Sheffield, Nottingham ou Derby, todas com clubes mais ou menos famosos que actualmente andam por divisões secundárias) e East Anglia (que já fica na zona de influência de Londres, é uma zona muito agrícola, com baixa densidade populacional e cujas towns mais importantes são Cambridge, Ipswich e Norwich, as duas últimas com clubes relativamente conhecidos).


Londres (área metropolitana)

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Arsenal (nordeste)
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Chelsea FC (sudoeste)
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Tottenham Hotspurs (nordeste)
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Charlton Athletic (sudeste)
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Crystal Palace FC (sul)
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Fulham FC (sudoeste)

A par com a zona noroeste, é onde se localiza o maior número de clubes, e não deve haver muitas cidades na europa com um número tão grande numa 1ª divisão de futebol. Em próximo post escrevo sobre os clubes de Londres com mais profundidade.

Sudeste

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Southampton FC (Southampton)
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Portsmouth FC (Portsmouth)

A zona sudeste de Inglaterra inclui as sub-zonas de Hampshire, Surrey, east and west Sussex, e Kent (onde fica Canterbury ou Cantuária, a sede da Igreja Anglicana). Na costa sul localizam-se as towns de Southampton e Portsmouth, ambas dependentes economicamente dos respectivos portos, tendo sido da primeira que partiu o Titanic. Nenhuma das outras towns do sudeste tem clubes na Premier, embora haja algumas conhecidas (principalmente como estâncias balneares e locais turísticos) como Bournemouth, Brighton (considerada a melhor praia do Reino Unido) e Dover.


Toda a zona sudoeste da Inglândia não tem qualquer equipa na Premier, apesar de incluir algumas cidades importantes como Bristol (quarta maior cidade inglesa, com porto enorme, e cidade natal dos Massive Attack e dos Manic Street Preachers ficando Portishead a poucas milhas de distância), que fica localizada na zona do Wessex. Esta inclui também Bath (ver livros da Jane Austen), Salisbury (onde se localiza a catedral mais alta de Inglaterra) ou Stonehenge.

Indo um pouco mais para oeste vêm a seguir as zonas de Devon e Cornualha, conhecidas pela paisagem típica bem patente no filme Straw Dogs do Sam Peckinpah, ou a série da britcom com a vigária gorda :)


Olhando para a distribuição das 20 equipas pelo território de Inglaterra, a ideia geral que se tem é que existe uma correlação visível entre as áreas com maior concentração industrial/comercial/populacional e o número de equipas na Premier. Não é grande descoberta, em Portugal todas as equipas da Super Liga estão sediadas numa faixa de 50 km desde a costa, de Braga a Setúbal, e incluindo a Madeira. Trás os Montes, Beiras, Alentejo e Algarve são um deserto no mapa do "super-futebol" e, tirando o Algarve, esta disposição também corresponde aos níveis de desenvolvimento económico e concentração de pessoas.

Por cá eu diria que Trás os Montes corresponde grosso modo ao nordeste (Newcastle é a Bragança de Inglaterra até pelo tempo que se demora a chegar lá), Beiras correspondem à zona de East Anglia e o Alentejo a Devon e Cornualha - estas são as zonas menos populadas destas terras, com menos indústria, com cidades mais pequenas. Por outro lado, do ponto de vista do turismo (paisagens e tradições) são bastante atractivas.

Para concluir só dizer que é de prever que os clubes que descem este ano à 2ª divisão (chamada Coca-Cola Championship) devem ser o West Bromwich Albion, o Norwich City e o Southampton. Os que sobem devem ser o Ipswich (de East Anglia), o Wigan (borough algures entre Liverpool e Manchester no noroeste) e o Sunderland (perto de Newcastle, no nordeste). Ou seja, ainda se vai acentuar um pouco mais a concentração geográfica dos clubes da Premier.


E de futeboladas é tudo por hoje, em próximo post vou escrever sobre o Ano Novo Chinês do Galo, celebrações nas quais participei recentemente com grande galhardia!

Abraços londrinos

sábado, fevereiro 12

Juvenal e o Futebol Inglês

Dears,


Hoje escrevo-vos acerca do último capítulo da minha experiência no Chiquito e do primeiro capítulo sobre a Premier League que eu queria escrever. Sei que este último tema não é dos mais interessantes para parte de vós, portanto se não vos apetecer ler cliquem num link para outro blog, como por exemplo o Otites :)


Juvenal - o epílogo da "Saga do Chiquito"

A bela saga do Chiquito terminou no sábado passado de forma exemplar. Dada minha vontade de parar de trabalhar ali, o Raju (gestor da cozinha) conseguiu arranjar em tempo recorde aquele que. na opinião dele, é o substituto com o perfil perfeito para fazer o tipo de trabalho que eu estava a fazer: alguém que não tenha qualificações que lhe permitam fazer outro tipo de trabalho, que não fale a língua inglesa e que portanto não reclame e não discuta. Haviam de ver o tamanho do sorriso na cara do Raju quando o tipo apareceu no restaurante a pedir trabalho sábado de manhã...

Adivinhem quem, portanto, saiu na rifa??? Um Madeirense, claro está!!!!! De tanto ouvir falar neles, acabei por estar em contacto directo com um representante da etnia: o sr. Juvenal, 50 anos de idade, natural do Funchal e há 4 anos a trabalhar em Londres sempre em limpezas em restaurantes ou supermercados (tipo Tesco e Sainsbury's). Apesar de tanto tempo ainda só diz poucas palavras em inglês porque a maior parte dos últimos 4 anos passou-os a trabalhar para portugueses. Veio para cá porque não arranjava emprego na Madeira, disse que estava uma crise de emprego do caraças por lá... O tipo pareceu-me bastante porreiro, apesar do sotaque por vezes indecifrável, e de facto tinha uma capacidade de trabalho enorme. Todo o sábado à noite foi meu dever dar-lhe "formação", já que mais ninguém conseguia comunicar com ele, e foi dos meus dias de trabalho mais descansados. Ele pareceu bastante contente com o facto de voltar a ter trabalho e eu por me estar a despedir dali, pelo que a atmosfera entre nós foi boa. Quando saímos à 1 da matina ainda o levei a casa e ele disse-me que tinha comprado um pedacito de terra perto da minha casa. E o que vai ele fazer aí, perguntam vocês?? Construir uma casa? Especulação imobiliária? Deixar valorizar para os filhos? Nenhuma das anteriores! A ideia é mesmo plantar uma horta com feijão e couves!! Ah, grande português!!!!!!!!!!!! Boa sorte para ele!!

And now for something completely different!



Premier League I

Como devem imaginar tenho seguido com algum interesse a liga inglesa de futebol. Se já de Portugal a seguia mais ou menos, agora estou mesmo mais por dentro do filme.

Uma das coisas que mais distingue a Premier League da Super Liga é sem dúvida a comunicação social que gira em redor de ambas. Cada vez estou mais convencido que a razão mais forte pela qual o futebol é como é em Portugal (a enorme importância que tem para grande parte da população, eu incluído, as atitudes dos dirigentes, etc...) tem a ver com a quantidade de jornais desportivos e revistas dedicadas ao assunto. 3 jornais desportivos diários?? Suplementos desportivos, dedicados principalmente ao futebol, na maior parte dos jornais diários?? Telejornais muitas vezes a abrir com notícias futebolísticas??? É óbvio que não se pode falar só do essencial com tanto tempo de antena, tem que se arranjar casos e tricas e discutir "o sistema" até à exaustão.

O contraste é que aqui não há nenhum jornal puramente desportivo (quando muito umas revistas semanais), apenas secções desportivas para aí de 8 a 10 páginas em jornais como o Guardian, o Daily Telegraph ou o Times, entre outros, mas das quais apenas metade ou menos tem notícias futebolísticas - o resto é dedicado ao cricket, cavalos, golfe, rugby... (há uma maior paridade de interesse entre os vários desportos por cá em comparação com a exagerada dominância do desporto-rei em Portugal). Os telejornais também são todos mais curtos que em Portugal (meia hora no máximo), pelo que não há tempo para grandes desenvolvimentos e directos à porta dos estádios com os sócios a dizer alarvidades.

Conclusão: só há o espaço suficiente para se falar do jogo jogado e dos casos do jogo (praticamente não há jornalistas desportivos do tipo Gabriel Alves, Vítor Serpa ou outros do género, são praticamente todos ex-jogadores que se tornam apresentadores de programas de desporto na Tv - ex: John Barnes, Alan Hansen, Peter Schmeichel, e para mim o melhor de todos, Gary Lineker), para ouvir os jogadores e treinadores (não conheço nenhum presidente de clube por cá excepto o famoso Abramovich, e agora do magnata americano que quer comprar o Manchester United) e eventualmente alguma transferência extraordinária. Não há declarações lamentáveis tipo PC, LFV ou DC, e também não há muito espaço para elas com tantos jogos por semana para comentar.

É tudo por ora,

Chee-ree-o

NV

PS: Outra coisa menos positiva na Super Liga actualmente é o facto do Sporting não estar em 1º, que parvoíce! Obrigado à Carine pela foto do leão, é realmente muito bela!

quarta-feira, fevereiro 2

Chiquito & Cinema

Reeeello estimados!

Mais de uma semana depois cá estou de regresso. Tenho menos tempo para escrever por estes dias, por causa do trabalho e também tenho menos assuntos. Os dias de turismo andam ausentes da minha rotina e escrevo-vos acerca do que se vai passando comigo. Desta vez a continuação da saga do Chiquito e uma ida ao cinema.

Chiquito - parte II ou "The Plot Thickens"

Mais uma semana de trabalho se passou no pseudo-restaurante mexicano Chiquito e já deu para interiorizar o suficiente o padrão de vida de um assalariado não qualificado (sou mesmo bom em eufemismos, hã?!). O trabalho é uma bosta e continuo a achar que o mais interessante tem sido conhecer os meus colegas. Há umas figuras bem interessantes e vou-vos falar de quatro em particular:

Raju

Foi o tipo que me arranjou o trabalho. É sem dúvida umas das figuras mais castiças, este Sri Lankês (?) de 35 anos. Estive outro dia à conversa com ele, por entre uma bjeca e um cigarro, e pelo que ele me contou acho que deve ser parente do Sandokan! Está em Inglaterra com o estatuto de refugiado político, e pisgou-se do país dele por ter pertencido ao exército dos Tigres do Tamil (já alguma vez ouviram falar?). Segundo o relato, o Sri Lanka está dividido em duas partes, uma controlada pelos Tigres (de cultura hindu, próxima dos indianos) e outra pelo Governo (controlado por outra etnia, mais aparentada com os tibetanos e nepaleses). Na altura da independência dos ingleses, parece que estes previligiaram os "tibetanos" em detrimento dos Tamil por causa de acordos comerciais relativos ao chá (segundo apurei parece que o chá do Ceilão, nome que os portugueses davam ao Sri Lanka, é dos melhores chás do Mundo). A revolta dos Tamil dura desde 1970 e parece que nem a tragédia do tsunami vai por um ponto final no conflito. O Raju afirma ter sido guerrilheiro de libertação, participado em vários ataques às forças do Governo (nas quais levou com umas balas, das quais me mostrou as marcas), e pisgou-se do país quando achou que o movimento de libertação já não estava a lutar pelos valores correctos (parece que os líderes enriqueceram à grande e o povo continua pobre, a estória de sempre). Conclusão: está há dez anos fora do Sri Lanka, há 4 em Londres, tem uma namorada brasileira (outro dia saiu-se com um "Fooodaaa-sssse!"), comprou uma casa e uma exploração agrícola em Goiás e pensa ir para lá viver com a rapariga daqui por um ano, criar gado e não voltar a pôr os pés em Londres (ele, tal como a maior parte do pessoal estrangeiro por cá dizem mal de Inglaterra, não gostam e só por cá ficam por causa do bom do dinheiro). Sem dúvida que tem umas histórias para contar, este rapaz...

Rajeev

É dos tipos com que mais falo, é um indiano de Bombaim. Está sempre a vir à cozinha falar comigo em espanhol e português (anda a aprender). Trabalha no bar e de vez em quando faz umas acrobacias com as garrafas, à Tom Cruise no Cocktail. Não me parece que precise muito de trabalhar no Chiquito (vem sempre num BMW desportivo), acho que é mais pelo gozo e para se manter ocupado. Disse-me que daqui a um mês vai-se pisgar para o Texas, já tem visto de entrada nos EUA e vai trabalhar para uma empresa de IT (é engenheiro informático) como programador de software. Já tinha ouvido dizer que a onda de imigração de crânios indianos e chineses para Alemanha e EUA era grande e o Rajeev é um dos exemplos deste fluxo. Ele, tal como chineses com que tenho falado, vêm os EUA como o destino preferido, a terra das oportunidades onde te julgam pelo que consegues fazer e não pela tua raça ou religião. Só estão em Inglaterra porque não conseguem maneira de ir para o outro lado do atlântico, acham que aqui não têm as oportunidades que desejam. Eu pessoalmente acho que vão um bocado iludidos, mas há que reconhecer que os EUA conseguem projectar um certo fascínio e atracção, nomeadamente aos que se sentem "mais aptos".

Andrew

É também um dos mais simpáticos, um bacano, este polaco de 23 anos. Mais um engenheiro informático a trabalhar como cozinheiro, apaixonado por Espanha e pelo Barcelona, nem quer ouvir falar do Chelsea ganhar ao seu clube do coração na Liga dos Campeões em Fevereiro! Comecei a falar com ele porque o tipo é quase um sósia do Pedro Granger, o actor que apresentava a fantochada dos Ídolos, sabem? Ele não queria acreditar que houvesse portugueses loiros e de olhos azuis (o Kareem, um argelino, olhou para mim e disse que havia muitos tipos parecidos comigo no país dele - que maldição a minha!!!!), mas eu arranjei-lhe uma foto tirada da net do PG e ele ficou de boca aberta! Disse que é capaz de vir para Portugal à procura de oportunidades na TV :)
A namorada do Andrew tem um mestrado em Agronomia e anda à procura de melhor emprego, tal como ele. Não me parecem é muito interessados em voltar para a Polónia.

Nicolas

É o meu colega mais próximo, faz as mesmas funções reles que eu. Veio da Nigéria e é o único africano sub-sahariano a trabalhar no Chiquito. Não é muito falador, mas outro dia começámos a falar sobre o Togo e ele entusiasmou-se. Diz-me que África é um espectáculo e que a parte ocidental é a mais genuína (Nigéria, Ghana, Costa do Marfim, Senegal...), para ele Somália e Quénia não são a África verdadeira! Disse-me também que tem um grau de bachelor de uma universidade nigeriana, mas que não disse a ninguém no restaurante, prefere que achem que ele é parvo e que não vai conseguir arranjar outra coisa (o que não é verdade, parece que vai sair em breve porque já arranjou um emprego no Superdrug, uma cadeia de lojas de produtos de higiene pessoal e afins). Acha que não o tratam muito bem, principalmente as gestoras (uma inglesa e uma croata). Realmente elas não são muito porreiras. Com certeza que têm mais responsabilidades que o resto do pessoal, mas parece-me que são mesmo um bocado tótós, o Raju é sem dúvida de longe o melhor gestor, sabe ensinar o que fazer e sabe motivar e manter a relação (ao contrário das gaijas). Uma das coisas que ele me disse que eu fiquei a olhar é que o trabalho que estamos a fazer não é para ele (que fala e escreve bem inglês), mas para emigrantes que não falam a língua - tipo latino-americanos e PORTUGUESES (fez questão de dizer que não eu porque falo fluentemente)! Já viram, um nigeriano ter esta visão dos emigrantes lusos?!?! E outro pormenor é que todos, incluindo outros portugueses de Lisboa e do Porto,dizem mal dos madeirenses que vivem em Londres. Outro dia um dos argelinos estava a tentar descrever-me como são broncos e Clara disse-me o mesmo! Que desgosto o meu!


Bom, por hoje chega de chiquitices, vou mudar de assunto!


Cinema

Descobri ontem, não muito longe da minha casa, um cinema tipo King ou Nimas ou outro do género - pequenino, acolhedor, sem ninguém a comer pipocas atrás de mim e com filmes de autor, pequenas produções. Fiquei contente porque o único do género que tinha encontrado até agora fica no Soho, bem no centro de Londres, portanto um bocado fora de mão para ir num dia de semana à noite. Para além do mais o "Richmond Filmhouse" fica num dos sítios mais giros dos arredores de Londres, na town de Richmond upon Thames que, como o nome indica, fica à beirinha do Tamisa.

O filme escolhido foi o Sideways (título em português não sei :( ), não sei se por aí já estreou mas parece que é um dos candidatos aos óscares. De forma muito sucinta, a história do filme consiste na viagem eno-turística de uma semana que dois amigos decidem fazer pelas explorações vitícolas da Califórnia (cuja paisagem é surpreendentemente parecida com o nosso Alentejo! Não me admira os vinhos californianos já estejam por todo o lado, as extensões de vinha que mostram no filme são impressionantes!). Os dois actores principais são excelentes e o argumento é dos melhores que vi no último ano. Vão ver, principalmente os mais enófilos não podem perder!!!

Outro filme que vi recentemente foi o Closer ("Perto Demais", na tradução portuguesa). Na minha opinião é um bom filme com 2 coisas muito boas: a interpretação da Natalie Portman (1,60m??? 23 anos??? e depois?!?!) e a música "The Blower's Daughter" de um tal de Damien Rice (não conhecia o rapaz, desculpem a ignorância se já fôr um artista pop famoso...uns links com a biografia deste irish lad e letra da canção seguem abaixo),

http://www.mp3.com/damien-rice/artists/512585/summary.html

http://www.lyrics007.com/Damien%20Rice%20Lyrics/The%20Blower

http://www.damienrice.co.uk/music.asp

e principalmente quando as duas se combinam a sintonia é total (também tem umas músicas da Bebel Gilberto)! Também o facto de se passar em Londres e de eu reconhecer alguns dos locais onde as cenas acontecem dá um gozo particular :). A história do filme é baseada numa peça de teatro de um autor inglês de nome Patrick Marber, e o facto de ser originalmente uma peça é bem marcante no filme. Os diálogos e os personagens emanam uma certa artificialidade, há um certo exagero, não se trata de pessoas normais a falar e a relacionar-se normalmente umas com as outras! Mas não tem de ser assim, e eu pessoalmente gosto de filmes do género quando são bem conseguidos e bem interpretados como é o caso deste. A atmosfera meio greyish de Londres em oposição ao sol de Nova Iorque (no fim do filme) também não podia combinar melhor com o mood da história. O personagem do dermatologista também está demais!

E vocês o que é que têm andado a ver de interessante?

Bom até à próxima e abraços de Londres


NV


PS1: ouvi os dois discos que me arranjastes SR, o dos Humanos gostei moderadamente (acho boa a ideia de terem pegado em músicas menos conhecidas do Variações em vez das habituais!), algumas músicas estão mesmo bastante boas mas nem todas são boas. O duplo álbum dos The Gift sinceramente não achei grande coisa, um bocado insonso!

PS2: a Super Liga está um bocado esquisita, não???