D'APRÈS Um Vicente, algures entre LISBOA - LONDRES - XANGAI - BRUXELAS

quinta-feira, maio 19

O Bom Provedor

Caros bacanos,

Neste post vou fazer mais uma transcrição do livro de crónicas do Luis Fernando Veríssimo. Esta é dedicada ao meu caro amigo Rosebud, e às suas teorias acerca "do que as mulheres andam à procura num elemento do sexo masculino com quem sonham passar o resto de suas existências!". O título da crónica é "Bom Provedor", e aqui vai:

"
Foi um escândalo quando a Vaninha - logo a Vaninha, tão delicada - apresentou o noivo às amigas. Era um troglodita.
- Não - contou a Ceres, depois. - Não é força de expressão. É um troglodita mesmo. Ele babou na minha frente. Ele babou na minha frente!
O noivo babava. Seu vocabulário era limitado. Duas ou três interjeições e algumas palavras que só a Vaninha entendia e interpretava para os outros.
- Ele disse que tem muito prazer em conhecê-la, mamãe.
- Pensei que estivesse latindo.
É preciso dizer que a Vaninha, coitada, vinha de um casamento malsucedido, com intelectual brilhante mas complicado, e tinha dois filhos para criar. E quando sua mãe, incapaz de se controlar depois de ver o futuro genro tirar o sapato e a meia e coçar a sola do pé na frente de todo o mundo, enquanto a Vaninha fingia que não via, disse "Francamente!", respondeu simplesmente:
- Digam o que disserem, ele é um bom provedor.

Para espanto e indignação de todos, Vaninha casou com o troglodita. As amigas se distanciaram dela. Não era possível. O que a Vaninha, logo a Vaninha, formada em História da Arte, vira naquele monstro? Mas um dia, meses depois do casamento, a Ceres encontrou a mãe da Vaninha. E ouviu dela, estarrecida, um elogio ao genro.
- É um bom provedor.

As amigas resolveram investigar. A Ceres, designada como patrulha avançada, foi visitar a Vaninha. Encontrou-a na cozinha da casa de subúrbio para onde se mudara com o troglodita e os dois filhos, retalhando um boi inteiro. O marido estava sentado no chão, num canto da cozinha, chupando um osso. Vaninha explicou que ele só se interessava por um determinado osso do boi. Saía de casa sem dizer para onde ia e voltava com um boi inteiro, ainda quente, sobre os ombros. E salivando com a antecipação do osso. O que sobrava do boi ficava para o resto da família. A Vaninha não perguntava para onde ele ia nem como matava o boi. O importante era que o freezer estava cheio de carne. A Ceres não queria levar um pedaço de carne para casa?

Naquela mesma noite o marido da Ceres, Carlos Augusto, um homem elegantíssimo, bem articulado, campeão de gamão, depois de avisar que era preciso cortar as despesas da casa, que a situação na galeria não estava boa não, ouviu da mulher uma palavra forte e inédita.
- O que foi que você disse, Ceres?
- Imprestável!

A Ceres passou a visitar a Vaninha regularmente. Aliás, todas as amigas da Vaninha foram se reaproximando dela, uma a uma. Passavam a tarde com a Vaninha, conversavam, riam muito, e sempre levavam um pedaço de carne para casa. Comentando que "Marido era aquele! Não o que elas tinham em casa! Babava, mas e daí?"

segunda-feira, maio 16

E também eu...

Ao repto da Cláudia, já respondido pelo Berra Boi, aqui vai também a minha resposta:

1. Não podendo sair do Fahrennheit 451, que livro quererias ser?

“Doutor Fausto” do Thomas Mann. No âmbito dos livros técnicos, o "Fotossítese" de C. Pinto Ricardo e António Teixeira.

2. Já alguma vez ficaste perturbado com uma personagem de ficção?

De literatura acho que não, talvez de audiovisual sim. Por exemplo o temível pistoleiro Zeca Diabo ou o Roque Santeiro que nunca mais aparecia...

3. O último livro que compraste?

"The Full Cupboard of Life" de Alexander McCall Smith.

4. O último livro que leste?

Sem contar com o "Shanghai" da Lonely Planet, "O Melhor das Comédias da Vida Privada" de Luis Fernando Veríssimo.

5. Que livros estás a ler?

"Morality for Beautiful Girls" do Alexander McCall Smith. Ando mesmo viciado na Mma Ramotswe!

6. Seis livros que levarias para uma ilha deserta?

Um livro da Lonely Planet sobre essa ilha deserta; outro da Maria de Lurdes Modesto sobre como cozinhar em condições difíceis; mais um com capa fofa para servir de almofada à noite; e os três livros que me faltam ler da Colecção "Nº1 Ladies detective agency" do Alexander McCall Smith porque ando viciado.

7. Três pessoas a quem vais passar este testemunho e porquê?

A três dos participantes do blog musical Otites para ver o que têm para dizer acerca de livros!

quarta-feira, maio 11

Xangai city e Xitang

Dear Mates,

Estou já em Londres, depois de mais uma muy longa viagem e da superação do inevitável jet-leg. Depois de 2 semanas do outro lado do Mundo ainda me estou a readaptar à vida calma de Londres, por comparação com o frenesim de Xangai. Até me parece estranho não ver a toda a hora dezenas de bicicletas na estrada, nem ouvir as intermináveis e ruidosas buzinadelas dos taxistas, automobilistas e ciclistas. Eu diria que parte da explicação para as diferenças entre Londres e Xangai tem a ver com uma lei da termodinâmica, a Lei da Entropia: quanto maior o número de entidades presentes num determinado volume de espaço, maior a velocidade e o número de choques entre elas, resultando daí a elevação da temperatura medida nesse mesmo espaço. Xangai tem maior "nível de entropia" e é essa uma das características que a distinguem da maioria das cidades europeias, é um caldeirão mais agitado! :)

Este vai ser o último post da "colecção Xangai", já ligeiramente em tom de retrospectiva, à distância :-( Nos posts anteriores já escrevi acerca da maior parte do que vi e vivi, e deixei para o fim um pouco da fascinante História de Xangai e dos seus bairros.

Apartes

Antes disso apenas dizer que, como devem ter reparado, não foi possível pôr fotos no blog a partir da sinolândia. Tal deve-se a factores alheios à minha vontade, mas convido-vos a partir de amanhã a revisitar os posts de Xangai onde integrarei bué de fotos.

Outro aparte é que não foi possível visitar Suzhou (capital da produção de seda e "Veneza da China" por causa dos seus canais) conforme tinha planeado, devido à inexistência de bilhetes de autocarro ou comboio. É um dos problemas na China, devido às leis do país toda a gente é obrigada a tirar férias ao mesmo tempo, pelo que visitar os principais pontos turísticos na "semana do trabalhador" é um caos! Em alternativa fui a outra vila fluvial mais modesta chamada Xitang. Muito gira, óptima comida (principalmente mariscada) e belo passeio pelos canais! Seda é que não vi, fica para a próxima... Mas visitei uma "adega" onde se produz vinho de arroz e onde o processo de produção estava pintado nas paredes. Ora espreitem!

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História

Até ao ano de 1842 Xangai praticamente não existia. A sua importância como cidade e porto era diminuta em comparação com outros centros de produção e comércio de chá e seda como Hangzhou e Suzhou, cuja notoriedade durava já há séculos. As coisas mudam por volta dessa altura por causa dos ingleses (no seu período áureo, no tempo da Rainha Vitória), tal como aconteceu em muitos outros pontos da Ásia.


De fins do séc. XVII até princípios do séc. XIX os ingleses praticamente só faziam comércio com os portos da região do Cantão (ou Guangdong em chinês, onde se localizam Macau e Hong Kong): os ingleses compravam chá, seda e porcelanas, enquanto os chineses compravam lã e especiarias. Nesta altura os chineses ficavam a ganhar nas trocas, mas no fim do sec. XVIII os ingleses decidiram dar a volta ao texto: começaram a trazer ópio da Índia, e trocavam-no por prata chinesa com a qual compravam os mais desejados produtos chineses. O comércio do ópio ganhou tanta importância, e o consumo pelos chineses aumentou tanto nessas décadas, que as autoridades chinesas (dinastia Qing) tentaram pôr fim ao mesmo: em 1839 comerciantes ingleses foram presos e quantidades enormes de ópio deitadas ao mar. Depois de negociações falhadas entre as autoridades de ambos os reinos, os ingleses decidiram tratar do assunto ao seu estilo e invadiram Xangai em 1842, tendo chegado até Nanjing. Nessa cidade assinaram o chamado Tratado de Nanjing que marcou os destinos da cidade durante mais de um século e estipulava o seguinte:
- Paz entre a China e o Reino Unido
- Garantias de segurança e protecção aos cidadãos e propriedade britânicas
- A abertura da província do Cantão; das cidades de Fuzhou e Xiamen (na província de Fujian, a norte do Cantão) e Ningbo (na província de Zhejiang, a sul de Xangai); e de Xangai
- Permissão de residência nessas cidades/províncias a cidadãos estrangeiros e abertura de consulados nas mesmas para dinamização do comércio
- Tarifas justas de importação e exportação
- A posse de Hong Kong (é daqui que ela vem!)
- Uma indemnização de 18 milhões de dólares

Está visto que o comércio de ópio (a principal razão na base da Guerra do Ópio) não fez parte do tratado e os ingleses continuaram a controlá-lo para seu enorme proveito. Na verdade um dos principais bancos ingleses actualmente, o HSBC (Hong Kong and Shanghai Banking Corporation, se vierem a Londres veêm-no em todo o lado), ganhou toda a sua dimensão e poderio pelo papel que teve na gestão do comércio do ópio no sudeste asiático. O seu antigo edifício é o maior e mais sumptuoso ainda hoje localizado numa das principais avenidas de Xangai (o Bund).
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Bom, mas o que se seguiu foi que os Americanos e os Franceses aproveitaram a embalagem e assinaram tratados parecidos com os chineses (nesta altura já estavam por tudo...) e estabeleceram-se nas mesmas cidades. Xangai foi a que mais prosperidade teve, devido à excelente localização geográfica (na foz do Yang-tsé e a meio da costa chinesa, entre o Mar Amarelo e o Mar do Este da China), à inexistente interferência do Governo chinês e à própria vocação comercial dos xangainenses.

A navegação no porto da cidade cresceu muitíssimo, a população de estrangeiros aumentou e vem dessa altura a constituição dos povoamentos (settlements) ou concessões (concessions) estrangeiros em Xangai, cuja delimitação ainda hoje permanece entre os bairros. Inicialmente os estrangeiros estavm divididos em 3 concessões: a inglesa, a americana (estas duas fundiram-se em 1863, criando o chamado 'International Settlement') e a francesa. Cada uma delas constituiu as suas instituições próprias (tipo câmaras municipais) e geria todos os aspectos dessas concessões desde o saneamento ao planeamento urbano. Como podem concluir Xangai foi, em grande medida, uma invenção ocidental baseada no comércio/negócios e essa ainda é hoje a principal vocação da cidade.

Com o passar dos anos o padrão da economia alterou-se e sectores como os têxteis, o mercado imobiliário, os bancos, os seguros e a indústria naval começaram a desenvolver-se. Os bancos foram um dos sectores que mais se desenvolveu, pelo facto de a totalidade dos empréstimos, dívidas e indemnizações na China terem que passar necessariamente através de Xangai. Uma particularidade curiosa na altura era a existência de intermediários chineses do Cantão conhecidos por todos como compradors (nome dado pelos Portugueses), que eram os principais responsáveis pelo estabelecimento de negócios de compra e venda entre os chineses "puros" e os ocidentais (os cantoneses eram, e ainda são, lixados para o negócio). Está claro de ver que no fim do séc. XIX e princípio do séc. XX, Xangai se tornou uma metrópole que atraía imigrantes e empresários da China, capital estrangeiro e pessoal qualificado para todos os sectores.

O controlo estrangeiro da cidade durou cerca de 100 anos (!!), até à invasão japonesa na 2ª guerra e atribuição dos direitos sobre as concessões estrangeiras ao Chiang Kai-Shek em 1943. Até essa altura tornou-se uma das cidades mais industriais e cosmopolitas do Mundo (3 vezes maior que Londres), onde acorria todo o tipo de malta: milhares de Judeus fugidos das perseguiçoes nazis, os quais prosperaram muitíssimo (ainda hoje há um bairro judeu e uma sinagoga no norte da cidade); Russos mencheviques fugidos da Revolução Comunista (viviam na zona francesa, ainda hoje se veêm igrejas ortodoxas nessa zona), não tinham a sua própria concessão e estavam sujeitos às leis chinesas pelo que eram olhados com sobranceria pelos outros ocidentais; Japoneses interessados no comércio criaram a sua própria concessão e nos anos 30 a guerra entre chineses e japoneses tomou tais proporções (os japoneses invadiram o norte da China em 1931) que a cidade foi bombardeada em 1937, morreram milhares de pessoas e alguns dos principais edifícios foram destruídos no dia que ficou conhecido como 'Sábado Sangrento' (julgo que é desta altura que vem a história do Império do Sol do Spielberg, que descreve a evacuação dos estrangeiros da cidade e os campos de concentração montados pelos japoneses).

O ambiente dos anos 20 e 30 foi o que tornou a cidade famosa: as casas de ópio (mais de 1500 na cidade, conhecidas por 'ninhos de andorinha' - terá a ver com a sopa?), as casas de prostituição (mais de 600, conhecidas por 'casas de flores') e a corrupção generalizada; as gangues do crime organizado (tríades) e a violência; as sociedades secretas; o glamour dos clubes privados, dos edifícios art deco e das festas e eventos de ingleses, americanos e franceses; a pobreza extrema de grande parte dos chineses, o que levou ao despontar dos movimentos comunistas e a revoltas no campo e na cidade.
Por essa altura o KMT estava no poder e o Chiang Kai-Shek fez das suas ao aliar-se aos comunistas contra os poderes ocidentais e depois traí-los e dizimá-los com o apoio dos grupos das tríades de Xangai. Depois da derrota dos japoneses foi o caos, a guerra civil entre comunistas e nacionalistas (KMT), que os últimos perderam mas fugiram com todas as reservas de ouro do país para Taiwan.

De 1949, data da Revolução Comunista até aos anos 90 foi um período de retrocesso económico, embora o PC tenha acabado com o ópio, a prostituição, o trabalho infantil, os guetos e as famílias burguesas pelo caminho. Xangai era vista pelo novo regime como demasiado influenciada pelo ocidente e acabou por se tornar o berço da Revolução Cultural (tinha por objectivo destruir os quatro pecados: velhos costumes, velhos hábitos, velha cultura e venha forma de pensar), o exército invadiu a cidade e instituíu a anarquia, foi constituída uma Comuna (inspirada na Comuna de Paris do séc XIX) que durou apenas 3 semanas tendo sido reposta a ordem por ordem do Mao. Há vários filmes chineses que descrevem este período, os que mais gostei foram "O papagaio de papel azul", "Adeus, minha concubina" do Chen Kaige e o "Viver" do Zhang Yimou - vio-os nos primeiros anos da faculdade, passaram nos cinemas em Lisboa porque ganharam todos prémios em Cannes e o Paulo Branco encarregou-se de os comercializar no nosso burgo.
Em resumo foi a maluqueira total: alunos a dar porrada nos professores e fechar escolas; operários a fechar as indústrias; jovens a ir para os campos de trabalho e reeducação maoísta fora das cidades para os ensinar as virtudes da agricultura (o Danune sabe o que é isto...); templos foram devastados, os monges e padres postos a produzir guarda-chuvas ou nos campos de trabalho. Os pais da Lu (ambos profs) passaram por este período e não deve ter sido pera doce! Depois de 1976 veio o Deng Xiao-Ping, introduziu as reformas de mercado e a China começou a abrir, mais a partir do fim da Guerra Fria.

A partir dos anos 90 foi a explosão de investimento do Governo na Central, e boa parte dos arranha-céus que se veêm hoje em dia foram construídos depois de 1990, bem como as pontes, o metro, o aeroporto internacional, os museus e centros de convencções... o objectivo é tornar-se a capital financeira da Ásia e suplantar Hong Kong, segundo dizem nos próximos 20 anos.

Bairros

Hoje em dia a antiga concessão inglesa é a área denominada Bund e bairros adjacentes, onde as antigas instituições financeiras dos brits se localizam. A área é muito gira, principalmente à noite com os placards luminosos das marcas internacionais no topo dos edifícios acesas. Olhar para o bairro novo do outro lado do rio, Pudong a nova zona financeira (tipo Manhattan), à noite é espectacular! A torre é chamada Oriental Pearl Tower, é a maior torre de TV/Rádio da Ásia e a terceira maior do Mundo. A inspiração de quem a construíu veio parcialmente da Torre Eiffel, mas aquelas bolas rosa choc só podiam ser ideia de asiáticos (embora à noite a iluminação seja toda XPTO). Mais uma cena futurista...

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Do Bund sai em perpendicular a maior artéria comercial da cidade, fechada ao trânsito, chamada Nanjing Lu (onde se vendem umas frutas que nunca tinha visto), a qual vai dar à Renmin Square ou Praça do Povo (onde se localiza o Museu de Shanghai, que é o melhor museu do país e equivalente ao British Museum, mas apenas dedicado à China - as colecções de bronzes, jade, caligrafia, mobiliário e trajes tradicionais das diferentes regiões da China são de facto muito interessantes).

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A Concessão Francesa é das zonas mais interessantes da cidade, com muitos edifícios antigos e alamedas ladeadas por plátanos que fazem lembrar algumas boulevards de Paris (sorry, sem fotos...). Outra das principais ruas comerciais da cidade, a Huaihai Lu, localiza-se aí bem como as melhores zonas de pubs e discotecas.


A Parte Antiga de Shanghai (chamada Old Town) é a zona mais castiça, tipicamente chinesa e mais especificamente xangainesa. As grandes atracções são o bazar localizado nas ruas propriamente ditas (onde me fartei de regatear preços de souvenirs!), a casa de chá mais antiga e famosa da China (onde bebi o chá de flores que é uma delícia, acompanhado de uns ovos de codorniz!), e uns jardins tipicamente chineses (chamados YuYuan) que também são um dos principais spots da cidade.


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E por aqui termino "Um Vicente em Xangai". Obrigado pelos comentários e espero que tenham gostado da partilha, por vezes exaustiva, de informação. Mas olhem, eu gosto de escrever, é mal de família! :)

Adeus! Bye bye! Au revoir! Sayonara! Auf wiedersehen! Zai jian! Darsdnovya!

sábado, maio 7

Curtir Xangai

Caros,

Nestes dias a Lu e o ex-cohabitante da residência onde morei em Newcastle (Mr. Michael Ding) andaram-me a mostrar a cidade de cima a baixo, e também do avesso! Trata-se sem dúvida de uma metrópole cosmopolita, talvez ainda não tanto como Londres mas para lá caminha. Como dizem alguns lusos, tem um "andamento" do caraças e nunca pára, 24 sobre 24 horas. O cosmopolitismo actual no entanto vem, na minha opinião, mais do comércio e dos negócios do que propriamente das pessoas que vivem na cidade. Há de facto alguns ocidentais (europeus e americanos), mas muito poucos comparado com a esmagadora maioria de chineses. Africanos devo ter visto uns 3 ou 4 (incluindo o "brasileiro" do Congo), árabes nenhum nem mesmo na zona muçulmana da cidade. Mas as imagens e referências publicitárias, as lojas, os centros comerciais, os restaurantes, tudo isto gera a percepção de um mix de culturas enorme, tanto internacional como regional no contexto da China.

Por falar nisso, a diversidade de características das regiões chinesas é enorme e muito interessante: dos 1.2 biliões que constituem a população total, cerca de 40 milhões pertencem a 56 minorias étnicas que ocupam principalmente as regiões interiores do sul e oeste do país. Entras estas minorias incluem-se os Uyghurs, os Kyrgyz, os Yi, os Mongóis ou os Tibetanos, cujas províncias onde habitam têm muito maior autonomia de gestão do que as restantes províncias do país (a maior de todas, Xinjiang, tem como religião dominante a muçulmana e os povos que aí vivem são próximos dos das repúblicas ex-URSS da Ásia Central como o Cazaquistão ou Kyrguistão, o que se vê pela comida dos restaurantes regionais deles em Xangai - é parecida com a dos árabes!- e não vão nada à bola com Pequim; o Tibete, ou Xizang em mandarim, é outro caso particular, e aqui a religião dominante é o budismo; em ambos os casos o Governo faz tudo o possível para tirar força às instituições e líderes religiosos estabelecidos). Os restantes 1,16 biliões (?!?) pertencem à etnia ou nacionalidade Han que ocupa quase toda a orla costeira a leste. Na minha opinião esta dominação tão pronunciada dos Han ajuda muito à inexistência de conflitos internos e uniformização do sentimento nacional da grande maioria da população - é não só a cultura como a própria etnia! É evidente que há muitas assimetrias regionais mesmo a leste, ver a quantidade brutal de dialectos, mas toda a gente fala a língua nacional, o Mandarim. É uma diferença com os países africanos, em que a língua oficial comum a todos os habitantes de muitos dos países é estrangeira (português, inglês ou francês).

Voltando à cidade, tenho notado existirem grandes contrastes entre as partes mais ricas do centro e dos arredores onde estão localizados os estrangeiros e as classes ricas, e as partes mais pobres, incluindo aquela onde se localiza a casa em que pernoito. Enquanto nas primeiras tudo é brilho, cor e beleza, nas segundas a atmosfera é bem mais pardacenta e degradada. Mas com o ritmo de construção que se vê na cidade nao me admirava que daqui a 5 ou 10 anos boa parte dela estivesse renovada. Talvez não da melhor forma, já que zonas verdes e arborizadas fora do centro é quase mentira e cada prédio tem no minimo uns 25 andares - é brutal a selva de betão! - mas é como em Lisboa, há que dar melhores condições de habitação no interior das casas às pessoas (nas casas tradicionais várias famílias dormem no mesmo espaço separados apenas por cortinas) e os construtores estão sem dúvida a tratar do assunto (e as pessoas parecem contentes com a evolução). Quem vai sofrer é o trânsito daqui por uns anos, agora ainda poucas famílias proporcionalmente têm carro - bicicleta, motoretas eléctricas (as motas com mais de 125cc são proibidas na cidade) e transportes públicos (relativamente novos) - mas à medida que os rendimentos crescerem isto vai mudar...

Mas o que vos queria descrever neste post é o que é que se pode fazer na cidade em termos de diversão/entretenimento, o que andei a experimentar com os meus guias e a curtir. E aqui vai:


Restaurantes/Comida

É um dos pontos mais fortes da cultura chinesa, sem qualquer sombra de dúvida. A diversidade e qualidade dos restaurantes em Xangai é 5 estrelas. Eu já nem pergunto o que põem no prato, marcha tudo e depois de 2 semanas já sou um mestre dos pauzinhos! Também devo dizer que estou para aí uns dois quilitos mais anafado :) Uma característica de Xangai é o tamanho dos restaurantes, há edifícios de vários andares todos ocupados pelo mesmo estabelecimento e pelo que percebi sempre cheios. Tambem há muito a cultura de ir comer fora de casa. Nomes de "tascas" onde fui incluem o "Rei do Pato" (especialidade é o Pato à Pequim),

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o "Jaguar Dourado" (para quem tem por religião a culinária este restaurante tipo buffet é o templo-mor, especialidade mariscada, sushi/sashimi e peixe "mais fresco impossível"!),

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o "Jardim de Jade", o "Restaurante das Raparigas de Sechuan" (especialidades em comida picante e "focinhos" de pato - Sechuan é a terra dos pandas!)

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and so on.
As palavras mais usadas para dar uma certa cor chinesa são 'Pearl', 'Garden', 'Jade', 'Dragon' e outras do género.

Uma das coisas mais desagradaveis é o preco do café. Carambas, para eles é um luxo e não dá para pagar um expresso (vulgo bica) por menos de 2 euros (em muitos locais chega aos 3)! Nem no centro de Paris o preço é tão alto, bolas! Não dá para ser cafeíno-dependente por estas bandas.

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Karaoke (KTV)

Um dos grandes vícios dos asiáticos. Qualquer restaurante digno desse nome tem que ter um KTV ou então não há festa! Eu fui levado para um complexo de entretenimento, que consiste num edifício de vários andares, cada andar com umas 15 a 20 salas de karaoke (privadas) que podem ser alugadas por determinado numero de horas. Cada sala tem uma tv gigante e uma aparelhagem sonora, sofás e mesas onde se podem tomar refeições (estao incluídas no preço total) tipo buffet. Eu fui lá parar às 11 de manhã e saí de lá às duas da tarde, isto porque é muito mais barato alugar para o almoço. Spooky, hem? Eu honestamente aquilo cansa-me um bocado, mas o pessoal que estava comigo (chineses e o japonês) cantava como se não houvesse amanhã! Como em muitos outros locais o serviço foi impecável. O negócio está aberto 24 horas por dia, se se quiser pode-se ir lá parar às 4 da manhã!

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Banhos Públicos (Spa)

Esta deve ter sido a minha experiência mais cómica. Xangai está cheia de Spas, e uma entrada com duração de umas horas custa cerca de 4 euros. A experiência consiste em nos pormos de rabo ao léu e passar umas horas numa piscina aquecida ou na sauna. Senti-me um cidadão do Império Romano! A parte dos homens está obviamente separada da das mulheres e este foi um dos problemas. Sem entrar em grandes pormenores, imaginem um portuga e um japonês a tentarem comunicar com os funcionários chineses (que nao falam outra língua) para os tentar fazer perceber o que queríamos e o que não queríamos num spa na periferia de Xangai onde (pela cara dos tipos) nunca deve ter ido nenhum estrangeiro! Digamos que não foi fácil... Depois dos banhos o estabelecimento oferece também vários tipos de massagens, fisioterapia, bares e restaurantes e inclusive dormida. Também aqui funcionam 24 sobre 24 horas e fomos lá por volta da meia noite, mas o sítio estava bastante cheio. Quite unreal ... que eu saiba em Lisboa nao há estaminés do género, pelo menos do tipo onde os pais levem os filhos crianças e vão apenas numa de passar umas horas em família, a relaxar e divertir-se. Mais uma ideia para importação...


Reflexologia

Mais uma cena que deu para fazer por volta da meia noite num centro terapêutico. Também é chamado de massagem aos pés, mas a ideia é a de fazer acunpunctura com os dedos, principalmente na sola dos pés. Os chineses acreditam que todos os órgãos principais do corpo estão ligados por centros nervosos aos pés, pelo que aplicando pressão nos pontos certos se pode contribuir para uma melhor saúde e detectar problemas precocemente.

Fora estes efeitos positivos a experiência é relaxante ao máximo. A sessão dura 1 hora (custa cerca de 5 euros), e na sala tem-se tv à disposição bem como umas peças de fruta e uns snacks. Os chineses, jovens e idosos (os que podem pagar, claro), adoram fazer isto e a família da Lu e do Michael deve ir pelo menos umas duas vezes por mês. Mais uma ideia...


Compras

O Centro de Shanghai é parecido ou mesmo melhor que os centros de boa parte das cidades europeias que conheci (e claro, muito superior ao de Nanjing ou mesmo da bela Hangzhou). Montes de centros comerciais e department stores, ruas cheias de lojas de marcas de topo e, claro, preços mais baratos que em Londres. Conclusão: é difícil resistir e no fim a bolsa sofre :( É uma cidade extremamente comercial, é a sua essência dizem os proprios chineses.

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Mas fora as zonas mais chic também fui a uns mercados onde tudo é regateado, se vende de tudo das marcas mais conhecidas (imitações em grande parte dos casos, pois com certeza) ao preço da chuva. É tipo Feira de Carcavelos! Também aqui não é bom ter ar estrangeiro, os vendedores literalmente não me largavam o braço, sempre dizendo as palavras-chave: 'watch?', 'glasses', 'dvd?' ou 'look, look, come here!'. É o preço da pechincha...


Bares e Diversão Nocturna

Mais uma cena em que a cidade está bem servida. A parte mais animada é a da Zona Francesa, ontem fui lá a um bar chamado 'Blue Frog' e encontrei numas das ruas principais dois restaurantes/bares portugas, provavelmente vindos de Macau. A zona do Bund (a marginal principal da cidade, volto ao assunto em proximo post) também tem vários pubs e bares.

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No centro da cidade fizeram um projecto tipo docas mas sem o rio, ou seja, aproveitaram uns edifícios antigos e armazéns abandonados para renovarem, mantendo a arquitectura tradicional (casas de dois andares, construídas em tijolo cinzento e vermelho). É uma zona de forte concentração de ocidentais, os preços são altos, mas há sítios com muito estilo e bom gosto. Dá mesmo vontade de entrar, sentar e tomar um copo, comer um gelado (tem estado calor!) ou uma refeição.

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Uma das coisas que se notam na cidade é que há polícias por todo o lado e a toda a hora (também nas zonas de bares à noite). Deve ser para combater o desemprego, mas o excesso de zelo com que fazem o seu trabalho roça o aborrecido. Principalmente porque estão sempre a soprar no apito! Nos parques públicos do centro da cidade (que até ao ano passado qualquer cidadão tinha que pagar para lá entrar, também era um bem de luxo o que para um europeu parece um conceito completamente irracional e em contrasenso com o termo 'público') vi sempre 2 ou 3 polícias a correr de um lado para o outro a evitar que os passeantes pisassem a relva com uma sopradela no apito e uns impropérios. Fiquei espantadíssimo, parecia que estavam atrás de ladrões em fuga, nunca vi tanta preocupação com uns bocados de relva!

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Pandas

E isto era uma das coisas que eu queria mesmo ver numa visita à China - Pandas!!! São animais realmente lindos, tanto o Panda Pequeno como o Panda Gigante. Deu para ver no zoo de Xangai animais que em Lisboa e Londres é quase impossível, eu pessoalmente nunca tinha visto um pavão branco de cauda aberta, nem peixes dourados (com as suas grandes bochechas)!

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E é tudo por hoje da ex-futura capital financeira do sudeste asiático. Está-se a aproximar o dia da partida, proximo post se calhar já será de Londres.

Ciao bellos


PS1: SPOOOOOOOORRTTIIIIIIINNNNGGGGGGGG!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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PS2: Hoje visitei mais um templo budista, desta vez em Xangai, chamado "Templo do Buda de Jade" devido a uma preciosa estátua de 2 metros de altura que se encontra dentro do templo. Uma das coisas que me chamou mais a atenção no entanto foi que em lugar de bastante destaque vi penduradas na parede duas fotografias de personalidades políticas portuguesas cumprimentando o monge-mor aquando da sua visita ao templo: numa estava o inevitável Mário Soares (cuja foto de uma das suas visitas já tinha visto na fábrica central da cerveja Carlsberg em Copenhaga há uns anos atrás), e na outra a esposa do Cavaco Silva (curiosamente ele não aparecia na foto, sabe-se lá porquê os monges preferiram a foto da sua esposa).

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