D'APRÈS Um Vicente, algures entre LISBOA - LONDRES - XANGAI - BRUXELAS

quarta-feira, fevereiro 2

Chiquito & Cinema

Reeeello estimados!

Mais de uma semana depois cá estou de regresso. Tenho menos tempo para escrever por estes dias, por causa do trabalho e também tenho menos assuntos. Os dias de turismo andam ausentes da minha rotina e escrevo-vos acerca do que se vai passando comigo. Desta vez a continuação da saga do Chiquito e uma ida ao cinema.

Chiquito - parte II ou "The Plot Thickens"

Mais uma semana de trabalho se passou no pseudo-restaurante mexicano Chiquito e já deu para interiorizar o suficiente o padrão de vida de um assalariado não qualificado (sou mesmo bom em eufemismos, hã?!). O trabalho é uma bosta e continuo a achar que o mais interessante tem sido conhecer os meus colegas. Há umas figuras bem interessantes e vou-vos falar de quatro em particular:

Raju

Foi o tipo que me arranjou o trabalho. É sem dúvida umas das figuras mais castiças, este Sri Lankês (?) de 35 anos. Estive outro dia à conversa com ele, por entre uma bjeca e um cigarro, e pelo que ele me contou acho que deve ser parente do Sandokan! Está em Inglaterra com o estatuto de refugiado político, e pisgou-se do país dele por ter pertencido ao exército dos Tigres do Tamil (já alguma vez ouviram falar?). Segundo o relato, o Sri Lanka está dividido em duas partes, uma controlada pelos Tigres (de cultura hindu, próxima dos indianos) e outra pelo Governo (controlado por outra etnia, mais aparentada com os tibetanos e nepaleses). Na altura da independência dos ingleses, parece que estes previligiaram os "tibetanos" em detrimento dos Tamil por causa de acordos comerciais relativos ao chá (segundo apurei parece que o chá do Ceilão, nome que os portugueses davam ao Sri Lanka, é dos melhores chás do Mundo). A revolta dos Tamil dura desde 1970 e parece que nem a tragédia do tsunami vai por um ponto final no conflito. O Raju afirma ter sido guerrilheiro de libertação, participado em vários ataques às forças do Governo (nas quais levou com umas balas, das quais me mostrou as marcas), e pisgou-se do país quando achou que o movimento de libertação já não estava a lutar pelos valores correctos (parece que os líderes enriqueceram à grande e o povo continua pobre, a estória de sempre). Conclusão: está há dez anos fora do Sri Lanka, há 4 em Londres, tem uma namorada brasileira (outro dia saiu-se com um "Fooodaaa-sssse!"), comprou uma casa e uma exploração agrícola em Goiás e pensa ir para lá viver com a rapariga daqui por um ano, criar gado e não voltar a pôr os pés em Londres (ele, tal como a maior parte do pessoal estrangeiro por cá dizem mal de Inglaterra, não gostam e só por cá ficam por causa do bom do dinheiro). Sem dúvida que tem umas histórias para contar, este rapaz...

Rajeev

É dos tipos com que mais falo, é um indiano de Bombaim. Está sempre a vir à cozinha falar comigo em espanhol e português (anda a aprender). Trabalha no bar e de vez em quando faz umas acrobacias com as garrafas, à Tom Cruise no Cocktail. Não me parece que precise muito de trabalhar no Chiquito (vem sempre num BMW desportivo), acho que é mais pelo gozo e para se manter ocupado. Disse-me que daqui a um mês vai-se pisgar para o Texas, já tem visto de entrada nos EUA e vai trabalhar para uma empresa de IT (é engenheiro informático) como programador de software. Já tinha ouvido dizer que a onda de imigração de crânios indianos e chineses para Alemanha e EUA era grande e o Rajeev é um dos exemplos deste fluxo. Ele, tal como chineses com que tenho falado, vêm os EUA como o destino preferido, a terra das oportunidades onde te julgam pelo que consegues fazer e não pela tua raça ou religião. Só estão em Inglaterra porque não conseguem maneira de ir para o outro lado do atlântico, acham que aqui não têm as oportunidades que desejam. Eu pessoalmente acho que vão um bocado iludidos, mas há que reconhecer que os EUA conseguem projectar um certo fascínio e atracção, nomeadamente aos que se sentem "mais aptos".

Andrew

É também um dos mais simpáticos, um bacano, este polaco de 23 anos. Mais um engenheiro informático a trabalhar como cozinheiro, apaixonado por Espanha e pelo Barcelona, nem quer ouvir falar do Chelsea ganhar ao seu clube do coração na Liga dos Campeões em Fevereiro! Comecei a falar com ele porque o tipo é quase um sósia do Pedro Granger, o actor que apresentava a fantochada dos Ídolos, sabem? Ele não queria acreditar que houvesse portugueses loiros e de olhos azuis (o Kareem, um argelino, olhou para mim e disse que havia muitos tipos parecidos comigo no país dele - que maldição a minha!!!!), mas eu arranjei-lhe uma foto tirada da net do PG e ele ficou de boca aberta! Disse que é capaz de vir para Portugal à procura de oportunidades na TV :)
A namorada do Andrew tem um mestrado em Agronomia e anda à procura de melhor emprego, tal como ele. Não me parecem é muito interessados em voltar para a Polónia.

Nicolas

É o meu colega mais próximo, faz as mesmas funções reles que eu. Veio da Nigéria e é o único africano sub-sahariano a trabalhar no Chiquito. Não é muito falador, mas outro dia começámos a falar sobre o Togo e ele entusiasmou-se. Diz-me que África é um espectáculo e que a parte ocidental é a mais genuína (Nigéria, Ghana, Costa do Marfim, Senegal...), para ele Somália e Quénia não são a África verdadeira! Disse-me também que tem um grau de bachelor de uma universidade nigeriana, mas que não disse a ninguém no restaurante, prefere que achem que ele é parvo e que não vai conseguir arranjar outra coisa (o que não é verdade, parece que vai sair em breve porque já arranjou um emprego no Superdrug, uma cadeia de lojas de produtos de higiene pessoal e afins). Acha que não o tratam muito bem, principalmente as gestoras (uma inglesa e uma croata). Realmente elas não são muito porreiras. Com certeza que têm mais responsabilidades que o resto do pessoal, mas parece-me que são mesmo um bocado tótós, o Raju é sem dúvida de longe o melhor gestor, sabe ensinar o que fazer e sabe motivar e manter a relação (ao contrário das gaijas). Uma das coisas que ele me disse que eu fiquei a olhar é que o trabalho que estamos a fazer não é para ele (que fala e escreve bem inglês), mas para emigrantes que não falam a língua - tipo latino-americanos e PORTUGUESES (fez questão de dizer que não eu porque falo fluentemente)! Já viram, um nigeriano ter esta visão dos emigrantes lusos?!?! E outro pormenor é que todos, incluindo outros portugueses de Lisboa e do Porto,dizem mal dos madeirenses que vivem em Londres. Outro dia um dos argelinos estava a tentar descrever-me como são broncos e Clara disse-me o mesmo! Que desgosto o meu!


Bom, por hoje chega de chiquitices, vou mudar de assunto!


Cinema

Descobri ontem, não muito longe da minha casa, um cinema tipo King ou Nimas ou outro do género - pequenino, acolhedor, sem ninguém a comer pipocas atrás de mim e com filmes de autor, pequenas produções. Fiquei contente porque o único do género que tinha encontrado até agora fica no Soho, bem no centro de Londres, portanto um bocado fora de mão para ir num dia de semana à noite. Para além do mais o "Richmond Filmhouse" fica num dos sítios mais giros dos arredores de Londres, na town de Richmond upon Thames que, como o nome indica, fica à beirinha do Tamisa.

O filme escolhido foi o Sideways (título em português não sei :( ), não sei se por aí já estreou mas parece que é um dos candidatos aos óscares. De forma muito sucinta, a história do filme consiste na viagem eno-turística de uma semana que dois amigos decidem fazer pelas explorações vitícolas da Califórnia (cuja paisagem é surpreendentemente parecida com o nosso Alentejo! Não me admira os vinhos californianos já estejam por todo o lado, as extensões de vinha que mostram no filme são impressionantes!). Os dois actores principais são excelentes e o argumento é dos melhores que vi no último ano. Vão ver, principalmente os mais enófilos não podem perder!!!

Outro filme que vi recentemente foi o Closer ("Perto Demais", na tradução portuguesa). Na minha opinião é um bom filme com 2 coisas muito boas: a interpretação da Natalie Portman (1,60m??? 23 anos??? e depois?!?!) e a música "The Blower's Daughter" de um tal de Damien Rice (não conhecia o rapaz, desculpem a ignorância se já fôr um artista pop famoso...uns links com a biografia deste irish lad e letra da canção seguem abaixo),

http://www.mp3.com/damien-rice/artists/512585/summary.html

http://www.lyrics007.com/Damien%20Rice%20Lyrics/The%20Blower

http://www.damienrice.co.uk/music.asp

e principalmente quando as duas se combinam a sintonia é total (também tem umas músicas da Bebel Gilberto)! Também o facto de se passar em Londres e de eu reconhecer alguns dos locais onde as cenas acontecem dá um gozo particular :). A história do filme é baseada numa peça de teatro de um autor inglês de nome Patrick Marber, e o facto de ser originalmente uma peça é bem marcante no filme. Os diálogos e os personagens emanam uma certa artificialidade, há um certo exagero, não se trata de pessoas normais a falar e a relacionar-se normalmente umas com as outras! Mas não tem de ser assim, e eu pessoalmente gosto de filmes do género quando são bem conseguidos e bem interpretados como é o caso deste. A atmosfera meio greyish de Londres em oposição ao sol de Nova Iorque (no fim do filme) também não podia combinar melhor com o mood da história. O personagem do dermatologista também está demais!

E vocês o que é que têm andado a ver de interessante?

Bom até à próxima e abraços de Londres


NV


PS1: ouvi os dois discos que me arranjastes SR, o dos Humanos gostei moderadamente (acho boa a ideia de terem pegado em músicas menos conhecidas do Variações em vez das habituais!), algumas músicas estão mesmo bastante boas mas nem todas são boas. O duplo álbum dos The Gift sinceramente não achei grande coisa, um bocado insonso!

PS2: a Super Liga está um bocado esquisita, não???

3 Comments:

Blogger serebelo said...

Antes de mais, as músicas dos Humanos são todas inéditas e o disco é brilhante to say the least. O disco dos Gift é de facto insonço.
Quadno inseres um link nos posts não é preciso meteres a morada inteira. Dá um salto ao Otites, e nos meus posts vê como estão os links. Depois se quiseres eu digo-te como se faz. É fácil.
A Superliga está de facto esquisita. Eu estou em casa à dois dias (estou entediado de morte), com uma gripe gigante e tenho visto tv para passar o tempo. Meu, entre árbitos, Braga à frente e contratações que nunca ouvi falar... nem sei que diga.
Fixe a cena dos filmes ao pé de ti. O Sideways estou muito curioso para ver. O realizador é o mesmo do About Schmidt, as críticas são óptimas e o traler aguçou-me o apetite para além disso. O clser também parece bom. Chegaste a ver "Quem tem medo de Virgina Wolf", o realizador é o mesmo e parece que tem alguns pontos comuns.
Meu, depois escrevo mais qualquer coisa. Estou tonto de olhar parao ecrã...

12:40 da tarde

 
Blogger Um Vicente said...

- barrigadura, asco de Roberts é um sentimento um bocado forte, que deve parecer muito estranho a qualquer rapaz heterossexual!! Mas para dizer a verdade nem reparei muito na Roberts, ela de facto entra no filme mas eu foquei-me mais na Portman :)
- acho que tanto o Closer como o Sideways têm menos de horas; não podes é ver o Alexandre ou o Aviador (já vi ambos também, e apesar das críticas negativas gostei bastante do Alexander!) que têm cerca de 3 horas
- não vi o "Quem tem medo de Virginia Woolf?", mas gostava de ver
- um dos problemas dos madeirenses é capaz de ser falar mal a língua, mas pelo que dizem o principal é serem broncos. o Alberto tem uma certa rudeza de "homem do Norte" mas não é bronco, na verdade até o achava um tipo bem vivo. Segundo um argelino, o Evan, o problema é serem cabeças duras: segundo as palavras dele, podes dizer a um madeirense que um copo é feito de vidro, qualquer pessoa ver que o copo é feito de vidro, e o madeirense recusar-se a aceitar e dizer que é de metal. Acho que o que ele quer dizer é que são um bocado ignorantes sem quererem aceitar que o são, acham que são espertos. E para além disso também mos descrevem como não sendo muito confiáveis.

2:50 da tarde

 
Blogger Um Vicente said...

Oi bd (barrigadura)

O controlo dos imigrantes deve vir a ser um dos temas políticos mais importantes no Reino Unido nos próximos tempos. Segundo as notícias, o Home Office não se tem mostrado suficientemente eficaz para controlar o fluxo de imigrantes e asilados políticos, e não se sabe bem o número que actualmente existe por cá. Acho que vão começar a ser muito mais restritivos a partir de agora e só tenho algum receio pela Lu, que tem que renovar o visto de trabalho a partir de Outubro. Quanto à necessidade de florestais não sei, mas as maiores florestas são para os lados de Gales e Escócia. Quem sabe se não haverá oportunidades por aí? O plano do Luís Santos, teu ex-colega florestal, era trabalhar como EngºFlorestal na Nova Zelândia ou Austrália. Por estas alturas ainda deve estar a trabalhar em cruzeiros de luxo.

Outra notícia deste fim de semana é que morreu o general Eyadema, o presidente do Togo nos últimos 38 anos. Lembras-te do tipo, até nos ofereceu um jantar no último dia da GA? O interessante é que o seu sucessor no "trono da Suiça de África" é o filho, que foi proclamado presidente pelo exército. Para isso alteraram a constituição de forma a não haver eleições. Que democracia, segue nitidamente o modelo suiço! Se quiseres mais informações vê a página do Le Monde de hoje.

E essa barriga, como vai?

4:51 da tarde

 

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