D'APRÈS Um Vicente, algures entre LISBOA - LONDRES - XANGAI - BRUXELAS

sábado, maio 7

Curtir Xangai

Caros,

Nestes dias a Lu e o ex-cohabitante da residência onde morei em Newcastle (Mr. Michael Ding) andaram-me a mostrar a cidade de cima a baixo, e também do avesso! Trata-se sem dúvida de uma metrópole cosmopolita, talvez ainda não tanto como Londres mas para lá caminha. Como dizem alguns lusos, tem um "andamento" do caraças e nunca pára, 24 sobre 24 horas. O cosmopolitismo actual no entanto vem, na minha opinião, mais do comércio e dos negócios do que propriamente das pessoas que vivem na cidade. Há de facto alguns ocidentais (europeus e americanos), mas muito poucos comparado com a esmagadora maioria de chineses. Africanos devo ter visto uns 3 ou 4 (incluindo o "brasileiro" do Congo), árabes nenhum nem mesmo na zona muçulmana da cidade. Mas as imagens e referências publicitárias, as lojas, os centros comerciais, os restaurantes, tudo isto gera a percepção de um mix de culturas enorme, tanto internacional como regional no contexto da China.

Por falar nisso, a diversidade de características das regiões chinesas é enorme e muito interessante: dos 1.2 biliões que constituem a população total, cerca de 40 milhões pertencem a 56 minorias étnicas que ocupam principalmente as regiões interiores do sul e oeste do país. Entras estas minorias incluem-se os Uyghurs, os Kyrgyz, os Yi, os Mongóis ou os Tibetanos, cujas províncias onde habitam têm muito maior autonomia de gestão do que as restantes províncias do país (a maior de todas, Xinjiang, tem como religião dominante a muçulmana e os povos que aí vivem são próximos dos das repúblicas ex-URSS da Ásia Central como o Cazaquistão ou Kyrguistão, o que se vê pela comida dos restaurantes regionais deles em Xangai - é parecida com a dos árabes!- e não vão nada à bola com Pequim; o Tibete, ou Xizang em mandarim, é outro caso particular, e aqui a religião dominante é o budismo; em ambos os casos o Governo faz tudo o possível para tirar força às instituições e líderes religiosos estabelecidos). Os restantes 1,16 biliões (?!?) pertencem à etnia ou nacionalidade Han que ocupa quase toda a orla costeira a leste. Na minha opinião esta dominação tão pronunciada dos Han ajuda muito à inexistência de conflitos internos e uniformização do sentimento nacional da grande maioria da população - é não só a cultura como a própria etnia! É evidente que há muitas assimetrias regionais mesmo a leste, ver a quantidade brutal de dialectos, mas toda a gente fala a língua nacional, o Mandarim. É uma diferença com os países africanos, em que a língua oficial comum a todos os habitantes de muitos dos países é estrangeira (português, inglês ou francês).

Voltando à cidade, tenho notado existirem grandes contrastes entre as partes mais ricas do centro e dos arredores onde estão localizados os estrangeiros e as classes ricas, e as partes mais pobres, incluindo aquela onde se localiza a casa em que pernoito. Enquanto nas primeiras tudo é brilho, cor e beleza, nas segundas a atmosfera é bem mais pardacenta e degradada. Mas com o ritmo de construção que se vê na cidade nao me admirava que daqui a 5 ou 10 anos boa parte dela estivesse renovada. Talvez não da melhor forma, já que zonas verdes e arborizadas fora do centro é quase mentira e cada prédio tem no minimo uns 25 andares - é brutal a selva de betão! - mas é como em Lisboa, há que dar melhores condições de habitação no interior das casas às pessoas (nas casas tradicionais várias famílias dormem no mesmo espaço separados apenas por cortinas) e os construtores estão sem dúvida a tratar do assunto (e as pessoas parecem contentes com a evolução). Quem vai sofrer é o trânsito daqui por uns anos, agora ainda poucas famílias proporcionalmente têm carro - bicicleta, motoretas eléctricas (as motas com mais de 125cc são proibidas na cidade) e transportes públicos (relativamente novos) - mas à medida que os rendimentos crescerem isto vai mudar...

Mas o que vos queria descrever neste post é o que é que se pode fazer na cidade em termos de diversão/entretenimento, o que andei a experimentar com os meus guias e a curtir. E aqui vai:


Restaurantes/Comida

É um dos pontos mais fortes da cultura chinesa, sem qualquer sombra de dúvida. A diversidade e qualidade dos restaurantes em Xangai é 5 estrelas. Eu já nem pergunto o que põem no prato, marcha tudo e depois de 2 semanas já sou um mestre dos pauzinhos! Também devo dizer que estou para aí uns dois quilitos mais anafado :) Uma característica de Xangai é o tamanho dos restaurantes, há edifícios de vários andares todos ocupados pelo mesmo estabelecimento e pelo que percebi sempre cheios. Tambem há muito a cultura de ir comer fora de casa. Nomes de "tascas" onde fui incluem o "Rei do Pato" (especialidade é o Pato à Pequim),

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o "Jaguar Dourado" (para quem tem por religião a culinária este restaurante tipo buffet é o templo-mor, especialidade mariscada, sushi/sashimi e peixe "mais fresco impossível"!),

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o "Jardim de Jade", o "Restaurante das Raparigas de Sechuan" (especialidades em comida picante e "focinhos" de pato - Sechuan é a terra dos pandas!)

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and so on.
As palavras mais usadas para dar uma certa cor chinesa são 'Pearl', 'Garden', 'Jade', 'Dragon' e outras do género.

Uma das coisas mais desagradaveis é o preco do café. Carambas, para eles é um luxo e não dá para pagar um expresso (vulgo bica) por menos de 2 euros (em muitos locais chega aos 3)! Nem no centro de Paris o preço é tão alto, bolas! Não dá para ser cafeíno-dependente por estas bandas.

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Karaoke (KTV)

Um dos grandes vícios dos asiáticos. Qualquer restaurante digno desse nome tem que ter um KTV ou então não há festa! Eu fui levado para um complexo de entretenimento, que consiste num edifício de vários andares, cada andar com umas 15 a 20 salas de karaoke (privadas) que podem ser alugadas por determinado numero de horas. Cada sala tem uma tv gigante e uma aparelhagem sonora, sofás e mesas onde se podem tomar refeições (estao incluídas no preço total) tipo buffet. Eu fui lá parar às 11 de manhã e saí de lá às duas da tarde, isto porque é muito mais barato alugar para o almoço. Spooky, hem? Eu honestamente aquilo cansa-me um bocado, mas o pessoal que estava comigo (chineses e o japonês) cantava como se não houvesse amanhã! Como em muitos outros locais o serviço foi impecável. O negócio está aberto 24 horas por dia, se se quiser pode-se ir lá parar às 4 da manhã!

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Banhos Públicos (Spa)

Esta deve ter sido a minha experiência mais cómica. Xangai está cheia de Spas, e uma entrada com duração de umas horas custa cerca de 4 euros. A experiência consiste em nos pormos de rabo ao léu e passar umas horas numa piscina aquecida ou na sauna. Senti-me um cidadão do Império Romano! A parte dos homens está obviamente separada da das mulheres e este foi um dos problemas. Sem entrar em grandes pormenores, imaginem um portuga e um japonês a tentarem comunicar com os funcionários chineses (que nao falam outra língua) para os tentar fazer perceber o que queríamos e o que não queríamos num spa na periferia de Xangai onde (pela cara dos tipos) nunca deve ter ido nenhum estrangeiro! Digamos que não foi fácil... Depois dos banhos o estabelecimento oferece também vários tipos de massagens, fisioterapia, bares e restaurantes e inclusive dormida. Também aqui funcionam 24 sobre 24 horas e fomos lá por volta da meia noite, mas o sítio estava bastante cheio. Quite unreal ... que eu saiba em Lisboa nao há estaminés do género, pelo menos do tipo onde os pais levem os filhos crianças e vão apenas numa de passar umas horas em família, a relaxar e divertir-se. Mais uma ideia para importação...


Reflexologia

Mais uma cena que deu para fazer por volta da meia noite num centro terapêutico. Também é chamado de massagem aos pés, mas a ideia é a de fazer acunpunctura com os dedos, principalmente na sola dos pés. Os chineses acreditam que todos os órgãos principais do corpo estão ligados por centros nervosos aos pés, pelo que aplicando pressão nos pontos certos se pode contribuir para uma melhor saúde e detectar problemas precocemente.

Fora estes efeitos positivos a experiência é relaxante ao máximo. A sessão dura 1 hora (custa cerca de 5 euros), e na sala tem-se tv à disposição bem como umas peças de fruta e uns snacks. Os chineses, jovens e idosos (os que podem pagar, claro), adoram fazer isto e a família da Lu e do Michael deve ir pelo menos umas duas vezes por mês. Mais uma ideia...


Compras

O Centro de Shanghai é parecido ou mesmo melhor que os centros de boa parte das cidades europeias que conheci (e claro, muito superior ao de Nanjing ou mesmo da bela Hangzhou). Montes de centros comerciais e department stores, ruas cheias de lojas de marcas de topo e, claro, preços mais baratos que em Londres. Conclusão: é difícil resistir e no fim a bolsa sofre :( É uma cidade extremamente comercial, é a sua essência dizem os proprios chineses.

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Mas fora as zonas mais chic também fui a uns mercados onde tudo é regateado, se vende de tudo das marcas mais conhecidas (imitações em grande parte dos casos, pois com certeza) ao preço da chuva. É tipo Feira de Carcavelos! Também aqui não é bom ter ar estrangeiro, os vendedores literalmente não me largavam o braço, sempre dizendo as palavras-chave: 'watch?', 'glasses', 'dvd?' ou 'look, look, come here!'. É o preço da pechincha...


Bares e Diversão Nocturna

Mais uma cena em que a cidade está bem servida. A parte mais animada é a da Zona Francesa, ontem fui lá a um bar chamado 'Blue Frog' e encontrei numas das ruas principais dois restaurantes/bares portugas, provavelmente vindos de Macau. A zona do Bund (a marginal principal da cidade, volto ao assunto em proximo post) também tem vários pubs e bares.

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No centro da cidade fizeram um projecto tipo docas mas sem o rio, ou seja, aproveitaram uns edifícios antigos e armazéns abandonados para renovarem, mantendo a arquitectura tradicional (casas de dois andares, construídas em tijolo cinzento e vermelho). É uma zona de forte concentração de ocidentais, os preços são altos, mas há sítios com muito estilo e bom gosto. Dá mesmo vontade de entrar, sentar e tomar um copo, comer um gelado (tem estado calor!) ou uma refeição.

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Uma das coisas que se notam na cidade é que há polícias por todo o lado e a toda a hora (também nas zonas de bares à noite). Deve ser para combater o desemprego, mas o excesso de zelo com que fazem o seu trabalho roça o aborrecido. Principalmente porque estão sempre a soprar no apito! Nos parques públicos do centro da cidade (que até ao ano passado qualquer cidadão tinha que pagar para lá entrar, também era um bem de luxo o que para um europeu parece um conceito completamente irracional e em contrasenso com o termo 'público') vi sempre 2 ou 3 polícias a correr de um lado para o outro a evitar que os passeantes pisassem a relva com uma sopradela no apito e uns impropérios. Fiquei espantadíssimo, parecia que estavam atrás de ladrões em fuga, nunca vi tanta preocupação com uns bocados de relva!

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Pandas

E isto era uma das coisas que eu queria mesmo ver numa visita à China - Pandas!!! São animais realmente lindos, tanto o Panda Pequeno como o Panda Gigante. Deu para ver no zoo de Xangai animais que em Lisboa e Londres é quase impossível, eu pessoalmente nunca tinha visto um pavão branco de cauda aberta, nem peixes dourados (com as suas grandes bochechas)!

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E é tudo por hoje da ex-futura capital financeira do sudeste asiático. Está-se a aproximar o dia da partida, proximo post se calhar já será de Londres.

Ciao bellos


PS1: SPOOOOOOOORRTTIIIIIIINNNNGGGGGGGG!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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PS2: Hoje visitei mais um templo budista, desta vez em Xangai, chamado "Templo do Buda de Jade" devido a uma preciosa estátua de 2 metros de altura que se encontra dentro do templo. Uma das coisas que me chamou mais a atenção no entanto foi que em lugar de bastante destaque vi penduradas na parede duas fotografias de personalidades políticas portuguesas cumprimentando o monge-mor aquando da sua visita ao templo: numa estava o inevitável Mário Soares (cuja foto de uma das suas visitas já tinha visto na fábrica central da cerveja Carlsberg em Copenhaga há uns anos atrás), e na outra a esposa do Cavaco Silva (curiosamente ele não aparecia na foto, sabe-se lá porquê os monges preferiram a foto da sua esposa).

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