D'APRÈS Um Vicente, algures entre LISBOA - LONDRES - XANGAI - BRUXELAS

terça-feira, abril 26

Primeiras Impressões

Peng You (Caros amigos)

Conforme prometido cá estou eu a enviar a primeira comunicação a partir desta enorme cidade de Xangai. Neste primeiro post vou apenas dar-vos conta das minhas primeiras impressões, que na minha opinião são na maior parte das vezes pouco correctas e enviesadas, mas que reflectem o meu estado de espírito e o que observo nesta cidade tão longe do mundo ocidental. Se estas mini-crónicas forem escritas um bocado em bruto não se admirem, é porque não tenho muito tempo para escrever ou há dificuldades técnicas.

Chegada

A partir do avião, antes de aterrar, deu para ter uma boa visão dos arredores de Xangai, nomeadamente do rio Yang-tsé que desagua na cidade vindo do interior do territorio chinês. É um rio castanhíssimo (poluição ou cor natural devido ao transporte de terras?), perto dele o Tamisa ou o Tejo são uma limpeza, mas com muitos barcos de transporte de mercadorias a navegar ao longo dele.

O aeroporto internacional de Pudong (um dos dois que serve a Xangai, o outro é para vôos domésticos) e as vias de acesso ao centro da cidade são bastante moderno(a)s, muito mais que o que vi em Belgrado, por exemplo.

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Ao longo da via rápida que liga ao centro circula um comboio de alta velocidade (o Maglev). Há muitas empresas multinacionais estabelecidas ao longo desta via (Sharp, Volkswagen, Canon), em geral com enormes infraestruturas. O centro da cidade localiza-se a cerca de 50 km e para chegar aos subúrbios (onde estou instalado) demorei cerca de meia hora. A Volkswagen deve quase ter o monopólio por aqui, mais de 50% dos carros são desta marca, mas de modelos não vistos em Portugal ou Inglaterra. A maioria dos carros na estrada são do modelo Santana (curioso hã, nome português!) 2000 ou 3000.

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O jet-leg é lixado! O meu sono está completamente desregulado. Nas 10 horas de viagem só devo ter dormido cerca de duas, e só houve cerca de 4 horas e meia de noite, já que ao viajar da Europa para a Ásia atravessámos a zona de noite do planeta no sentido contrário. Depois de partir de Londres, às 4 da tarde, cheguei a Xangai às 11 da matina (3 da manhã em Lisboa), fui almoçar e depois do almoço deu-me uma tosga do caraças!! A Lu disse para eu não dormir mas estava mais para lá do que para cá. Consegui resistir até às 10 da noite. Hoje (segunda) acordei antes das 5 da manhã (9 da noite de domingo em Lx) e já não consigo dormir, não sei como vai ser esta noite...

Estou alojado na casa dos pais da Lu, nos subúrbios de Xangai.

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É uma zona de prédios bastante altos, parece o Barreiro ou os arredores de Lisboa mas mais velho, com edifícios mais feios. Os edifícios da zona podem ser divididos em 2 estilos: aqueles que têm aquele ar e estilo "bloco de Leste", boa parte deles construídos antes dos anos 80: e os mais recentes, construídos depois de 2000 e muito parecidos em estilo e altura com Massamá, Telheiras ou o Cacém e as Mercês. Mas se acham que os patos bravos tinham mau gosto deviam ver a construção estatal aqui! Muitos prédios novos estão em construção actualmente, a área urbana de Shanghai está a expandir-se a grande velocidade segundo a Lu, e não da forma mais harmoniosa (ao contrário do que se vê em Londres). É só betão! Suponho que seja o mesmo que em Lx, prédios novos, confortos no interior das casas (é o que as pessoas querem!) mas nos espaços públicos é a miséria (o que vale é que aqui apenas uma em três famílias tem carro, está fora das possibilidades de compra de boa parte das classes médias, daqui por uns anos vai ser o caos). O mercado de compra e venda está "buoyant", continuam a chegar pessoas de regiões do interior da China para a cidade à procura de emprego, e a população total já passa dos 13 milhões de almas.

O trânsito é uma confusão, montes de bicicletas que transportam tudo (mudanças de casa) e motoretas que levam em cima sempre 2 ou 3 pessoas. O respeito pelos sinais não é muito, mesmo que esteja vermelho, se não vier ninguém é mesmo para passar! É sempre preciso ter cuidado com as bicicletas e pessoas que se atravessam à frente a toda a hora.

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TV

Os canais de TV são quase todos estatais (o CCTV, Central Chinese TV) e um deles é internacional, em inglês. É bastante interessante ver as notícias pelo lado deles, o tema mais em foco por estes dias são as relações com o Japão. Mas também falam muito do business, os lucros das empresas e as relações com a OMC. Para todos os efeitos a China parece ser neste momento uma economia de mercado a funcionar, apesar do PC no poder. Crescimento este ano acima das previsões, 9,5%, têm que arrefecer um pouco a economia senão a inflação vai atacar!

Também se fala bastante da conferência de Bandong, a 2ª entre os países da Ásia e África, a primeira foi há 50 anos (movimento dos países não alinhados no contexto da guerra fria, apenas 26 países participaram, onde sobressaíram figuras como o Nehru ou o Sukarno). Foi muito interessante assistir a um debate acerca da importância desta cimeira, o que significou há 50 anos (processos de descolonização, autonomia dos países do 3º mundo em relação às potências ocidentais e ao bloco soviético, situação fechada da China) e o que significa agora (reforço do multilateralismo contra o unilateralismo americano, relações sul-sul, cooperação e desenvolvimento, crescimento e desenvolvimento económico, voz autónoma destas regiões do Mundo no contexto das relações internacionais e estímulo à reforma da ONU a decorrer em Setembro, especialmente no que diz respeito ao conselho permanente e membros que o compõem). A conferência só se pode voltar a realizar tanto tempo depois principalmente por causa do fim da guerra fria, da maior abertura e interesse activo de países como a China, Índia e Indonésia à globalização, 109 países participaram! Eu registo é que, apesar de ser extremamente positivo este movimento, em todo o debate não se falou em 2 conceitos para nós tão fundamentais: a democracia e os direitos humanos. Os princípios fundamentais da conferência são exactamente a não interferência nos assuntos internos de uns países pelos outros, o respeito pelas soberanias e culturas específicas de cada país e blá-blá-blá. Enfim, para muitos dos líderes dos países africanos e asiáticos há coisas muito mais importantes que democracia, e com o progresso económico no topo da agenda as questões sociais ficam para trás.

Um pormenor muito curioso da TV chinesa é o facto de na previsão meteorológica o sol ser vermelho e não amarelo, como estamos habituados. Perguntei isto à Lu, ela riu-se porque nunca tinha reparado muito na diferença e disse que isto deve vir do facto do Mao Ze Dong sempre falar do Sol vermelho e dos amanhãs que cantam... O que é giro é ver numas notícias com um formato tão BBC/CNN simbologias a puxar para o comunismo, é só uma imagem do que é a China no presente, cheia de paradoxos...

Próximos dias

Amanhã vou a Nanjing, a cidade que foi mais bombardeada pelos japoneses na 2ª guerra mundial. A memória das população de lá é tipo Londres durante o Blitz, mas com montes de violações e matanças a sangue frio à mistura. Vamos ver se consigo enviar fotos de Nanjing, que hoje esteve difícil usar o photobucket.

Em jeito de balanço, os dois primeiros dias foram óptimos, estou a gostar bastante. No próximos dias digo mais qualquer coisa.

Yong Bao (Abraço)

2 Comments:

Blogger serebelo said...

Finalmente novidades! E que boas! Essas novas do Oriente são seguidas com grande interesse por cá. Contorna a censura e manda vir esses posts. O primeiro fui muito fixe! See ya

1:08 da tarde

 
Blogger serebelo said...

Já agora... se houver aí chá que recomendes (ouvi dizer que existem para aí uns verdes brutais!) traz uns para a minha excelsa pessoa. Isto se não te der muito trabalho... como é óbvio. Obrigado e diverte-te.

1:10 da tarde

 

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