D'APRÈS Um Vicente, algures entre LISBOA - LONDRES - XANGAI - BRUXELAS

quinta-feira, dezembro 9

Portugal, China, Reino Unido e Eu ou Retrospectiva e o Dia-a-Dia

Good Old Chaps,

Depois de uns dias sem escrever volto ao frente-a-frente com o monitor para um post mais comprido do que o costume, e se calhar mais comprido do que é razoável. Mas olhem, hoje apetece-me escrever! Vou dividir em várias secções para ser menos cansativo.

Objectivos

Passado pouco mais de um mês da minha chegada a Londres, é boa altura para fazer uma pequena retrospectiva sobre a vida por aqui. Quando decidi vir para Londres estes cerca de dois meses o meu objectivo principal foi estar mais perto da Lu, juntos no dia-a-dia. E tem sido muito bom e reforçado a nossa relação, estamos super contentes!

Outros objectivos um pouco mais secundários que estabeleci para mim próprio eram, por um lado, o de conhecer melhor a cidade (e vivê-la!) e os brits e, por outro, tentar entrar temporariamente no mercado de trabalho inglês (e já agora ganhar uns cobres) e ver como me adaptaria a viver e trabalhar aqui no médio-longo prazo (se outras oportunidades falharem, um plano B é sempre aconselhável!).

Como têm acompanhado, o primeiro dos dois objectivos tem sido plenamente conseguido. Gosto muito de Londres e até ao fim do meu período aqui acho que vou conseguir um diploma de "tours pela cidade". Há muita coisa para ver e descobrir, e desde já digo que espero voltar a Londres mais vezes no futuro se tiver essa oportunidade! É uma cidade vibrante e em que dá gosto estar, e que apesar da dimensão enorme que tem não é de todo opressiva.

O segundo objectivo nem tanto. Fui visitante regular do centro de emprego nas primeiras semanas mas, embora tenha conseguido algumas entrevistas (para motorista, entrada de dados numa empresa de software...), acabei por não arranjar nada. Foi engraçado que nas primeiras vezes que lá fui me perguntavam de onde era. Eu respondia com grande orgulho: "Portuguese!", mas as meninas do centro imediatamente pediam o meu visto de trabalho! Quase todas as "job advisors" lá são indianas (já nascidas ou não no UK, não sei) e tive a nítida sensação de que não faziam a mínima ideia de onde era Portugal. Eu respondia sempre que não preciso de visto porque Portugal pertence à UE, e elas lá iam confirmar com os superiores. Acho que deve ser mais uma vez o meu ar de Berbere que desperta grande simpatia na comunidade islâmica (mais uma vez me perguntaram na rua se eu era árabe!), mas talvez menos no mundo anglo-saxónico (quando digo que sou português a alguns ingleses vem sempre a derrota do Euro à baila, os tipos parecem um bocado doridos :) ).

Enfim, acabei por desistir de tentar encontrar trabalho pelo centro de emprego: uma das razões é porque me parece que quando apresento o meu CV eles me fazem sentir que tenho qualificações a mais para a maior parte dos empregos disponíveis, e se escondo o jogo perguntam afinal o que é que fiz nos últimos anos; outra questão é que para ser motorista (mesmo temporariamente, e há muitos empregos disponíveis nessa área) é preciso ter a carta de condução britânica e para isso tem que se esperar cerca de 3 semanas e pagar 40£ - portanto a ideia foi posta de lado. Nas últimas duas semanas tenho tentado encontrar alguma coisa "porta-a-porta". Fui a vários supermercados entregar CV's e tive duas propostas concretas para começar a trabalhar de imediato: uma do Aldi, mas queriam que trabalhasse todos os domingos e dias de semana à noite o que significaria estar pouco tempo disponível com a Lu; outra do Tesco, na secção de frutas e legumes, emprego que tinha um horário bom, era relativamente bem pago e com perspectivas de subir na hierarquia depois de algum tempo (tive inclusivé uma pequena acção de formação), mas tinha que ficar obrigatoriamente a trabalhar até ao dia 24/12 à tarde e entre o Natal e o Ano Novo também, portanto nada feito.

Por agora já desisti de encontrar alguma coisa já que estou quase de volta a Lisboa. Apesar de não ter sido muito bem sucedido a impressão com que fiquei é que há muitos empregos, a economia está a crescer mais, e é mais dinâmica do que na Europa Continental (está upbeat como dizem por cá), e se quiser ficar em Londres mais permanentemente não é muito complicado encontrar um emprego relativamente bem pago (embora não na área em que estudei). Começar a conhecer pessoas também é importante. Como também já tenho um "National Insurance Number" do tempo em que trabalhei em part-time em Newcastle, é menos uma restrição. Para os de vós que possam pensar remotamente em vir para cá espero que a minha experiência tenha algum interesse, e se quiserem alguma dica digam.

Dia-a-dia, hóbis e relações

Para além de comer e dormir, levar e trazer a Lu todos os dias do emprego, escrever para o blog, andar à procura de emprego e em visitas culturais, há uma série de coisas giras que se tornaram rotinas e que me permitiram conhecer melhor os chineses que vivem comigo e que trabalham na empresa da Lu.

Sábado à noite tem sido o dia do Snooker, estimulado por esse grande evento que decorreu durante o mês de Novembro chamado "UK Snooker Championship" - horas e horas diárias de snooker na BBC em que os grandes mestres ingleses mostraram o que vale o seu taco! Este ano ganhou o Maguire, um puto escocês que limpou o sebo aos grandes astros como o Ronnie O'Sullivan (figura carismática, o jogador mais rápido e espectacular, mas muito emotivo e às vezes perde jogos estupidamente - o pai está preso por assassinato e o rapaz diz que isso lhe marcou a vida...), o Stephen Hendry e o Steve Davis (os jogadores mais cerebrais, cheios de tácticas e de defesas brilhantes), e na final outro puto inglês chamado David Gray (que na minha opinião teve uma sorte do caraças em chegar à final). O snooker jogado foi de alto nível, e nós fomos na onda e também nos mostrámos jogadores de grande gabarito nas mesas do clube "Riley's" em Twickenham (que fica a 15 minutos de onde moro). Passo a apresentar os astros, que vivem comigo:

- Ping, grande jogadora de snooker e, como o nome deixa adivinhar, também do desporto nacional chinês - o ping-pong (o Esteireiro se apanhasse com ela ia ver o que são efeitos na bola...).


- Wan-Wan, com uma visão de jogo só superada pela sua vertigem consumista no capítulo do vestuário e acessórios.


- Mr. Xu, marido de Ping e figura enigmática, com um riso sardónico a acompanhar cada tacada, mas com quem é difícil manter uma conversa de 30 segundos em inglês. É o meu maior adversário, joga de fininho (à Bruno Marques) e normalmente leva a água ao seu moinho.


- Lu Cheng, namorada do Old Vic, e em virtude disso com um nível de jogo em crescendo, é apontada como grande candidata ao próximo campeonato.


- Old Vic, esse mágico! Sem palavras...


- O casal mistério, só conhecidos pelos nomes ingleses que os chineses normalmente adoptam quando vem para o Reino Unido (David e Joy), são raramente vistos e não foi possível conseguir uma foto.

Este tipo de snooker é muito fixe de jogar (nunca o tinha feito em Portugal), principalmente nas mesas grandes. Joga-se aos pontos e cada jogo demora de 45 minutos a 1 hora. Aos aficionados aconselho vivamente!

Outro dos pontos altos da semana é a Quarta-Feira à noite com os colegas de trabalho da Lu. A empresa aluga um ginásio e o pessoal vai para lá fazer Desporto, principalmente Basquetebol, Badminton e Ping-pong. Futebol não faz o gosto desta malta, tenho quase sempre jogado basquet. Não sou grande jogador mas tenho uma vantagem: sou mais alto que a maioria dos chineses e ganho boa parte dos ressaltos. Não sabia é que os tipos jogavam tão bem, parece que o basquet é um dos desportos que mais jogam na escola na China. Há mesmo um exame de lançamentos que eles dizem ser condição essencial para passar na cadeira de desporto. Há uns quantos que jogaram mesmo nas equipas universitárias em campeonatos, é só estrelas! Enfim, tem dado para me manter em forma sem as futeboladas de terça feira à tarde no "pitch" da Padre António Vieira. Já tentei foi jogar badminton mas são todos melhores que eu, eles e elas - não me admira ganharem sempre as medalhas nos JO. No ping-pong é a Ping a dominar, já foi profissional do ofício...

A empresa e os chineses em Londres

A malta de que vos falei acima trabalha toda em funções variadas no head office da empresa Dr. China (nome sugestivo, hum?), que é uma cadeia de lojas na área da medicina chinesa. O conceito que eu saiba não está muito em voga em Portugal, mas aqui há várias cadeias a competir pelo mercado que é crescente. O negócio consiste basicamente nas lojas que estão presentes em muitas high streets ou ruas comerciais do sudeste de Inglaterra (agora também no País de Gales, que se encontra em rápido desenvolvimento e cheio de oportunidades no presente, era uma das zonas mais pobres do Reino Unido) e que oferecem consultas e tratamentos de medicina tradicional chinesa como a acunpunctura, massagens e misturas de chás. Em Portugal funciona mais o esquema de clínicas ou centros terapêuticos, cá é mais lojas mesmo. o Dr. China tem agora cerca de 50 lojas e, pelo que dizem os donos da cadeia, que tive o prazer de conhecer, querem chegar às 100 em 2005. Em termos gerais parece que o negócio vai bem (há muitos velhotes ingleses com dinheiro à procura deste tipo de tratamentos) e pelo que a Lu me diz é bom trabalhar numa empresa em crescimento, em que se está permanentemente à procura de novas oportunidades de expansão e em constante mutação. Ela, com o seu MBA, está como peixe na água. Se quiserem saber mais alguma coisa podem ver o website:

http://www.chinese-herb.co.uk/

Aqui vão também umas fotos que tirei da loja de Wimbledon.




É quase tudo pessoal jovem com cursos de ensino superior em universidades britânicas (maioritariamente em gestão ou contabilidade) que trabalha nas lojas como gestores, enquanto que os médicos vêm todos da China - parte deles nem sabe falar inglês. Como há muita disponibilidade de ambos os tipos de mão de obra (chineses é coisa que nunca falta...) o crescimento deste tipo de empresas tem sido exponencial no Reino Unido.

Os chineses "tradicionais" em Londres e no resto do Reino Unido dedicam-se sobretudo a negócios de restauração e pequenas mercearias e supermercados. Mas quase só dedicados à parte alimentar e não como em Portugal em que têm muitas lojas tipo dos 300, com vestuário, bugigangas e afins. Aqui nessa faixa competem muito com os Indianos e o Árabes e provavelmente ficam para trás.
O chineses mais "modernos", muitos vindos de Hong-Kong (antes e depois da anexação) dedicam-se a todo o tipo de actividades e estão muito bem integrados na sociedade britânica. Muitos são já de segunda geração, conhecidos por "banana" - que significa amarelo por fora e branco por dentro! Até falam com sotaque inglês, o que soa um pouco estranho. Depois há esta onda enorme de estudantes que vêm para Inglaterra à procura dos canudos ingleses e muitos deles acabam por ficar - estes têm estado ligados nos últimos tempos ao desenvolvimento de muitas empresas high-tech e de serviços e-business, o que os coloca a competir directamente com os brits para os bons empregos (acontece o mesmo com os indianos).
Claro que também há os que vem nos contentores, mas isso é outra estória...

Como vêm o panorama é bastante diferente do português, em que a maior parte dos chineses (como de outras nacionalidades do sudeste asiático) encaixa mais no tipo "tradicional".

O Reino Unido e as suas obsessões

Como sabem os britânicos (mais os ingleses do que escoceses, galeses ou irlandeses) têm a mania. Uma imagem cómica que ouvi outro dia a um humorista da TV foi a de que os brits sentem que a sua ilha plana sobre o resto do Mundo orgulhosa e superior, e de vez em quando dignam-se a olhar para baixo e cumprimentar o resto dos seres humanos do planeta com um "Greetings, I say. How are you all down there good chaps? Best regards and dee-de-lee-doo-oo".

Neste seu planar superior interessam-se mais por determinadas zonas do planeta do que outras. Claro que acima de todos os outros países estão os EUA, mas num plano também aceitável encontram-se os países de língua inglesa mais desenvolvidos: o Canadá, a África do Sul, a Austrália e a Nova Zelândia (de onde vêm também as boas equipas de Rugby!). São os países mais vezes referidos e que merecem mais consideração servindo sempre de "benchmark", nomeadamente nas questões económicas porque têm economias liberais e a crescer muito mais do que os países da Europa Continental (parece-me haver um certo desdém pelo modelo social escandinavo, alemão e francês, mesmo por parte das figuras ligadas aos trabalhistas). É a irmandade anglo-saxónica espalhada pelos 4 cantos do globo e que, para o melhor e para o pior, domina o Mundo hoje em dia.

E embora pertencendo à UE não se sentem muito próximos da maior parte dos países que a compõem, na verdade sentem um irritação especial pelos franceses (quando o Chirac veio cá foi uma festa...) mas também pelos alemães, talvez complexos civilizacionais...

Outro dia deu um programa na TV intitulado "Porque é que os alemães são melhores que nós?", em que referiam todo o tipo de exemplos de superioridade dos germânicos: conseguiram reconstruir um país completamente devastado depois da guerra em poucas dezenas de anos e montaram sectores industriais modernos e muitos mais competitivos que os britânicos, enquanto estes adormeceram (até aos anos 90) à sombra da vitória dada pelos americanos; têm bares em Berlim em que não há empregados, as pessoas consomem as bebidas que querem e deixam o dinheiro que acham por bem numa caixa à saída - para os ingleses isso seria impossível, roubavam tudo e destruiam o bar em três tempos; os alemães são muito mais honestos e têm mais sensibilidade artística, pelo que os mais promissores artistas britânicos estão a emigrar para Berlim; e para concluir no programa até diziam que os alemães são melhores na cama!! O programa era uma paródia à volta do complexo de inferioridade mas mostra que estes tipos também sentem uma certa admiração pelos germânicos, vêem-nos como modelo de sociedade civilizada, embora estando sempre contentes por dentro pelo facto de terem ganho a guerra. Dos franceses apreciam o bom gosto e a finesse, mas têm uma repulsa visceral, e não se esquecem do Napoleão nem da vitória em Waterloo. Mas ambos são sem dúvida os seus pares na Europa, em pé de igualdade.

Em relação ao resto da Europa só contam basicamente a Itália e a Espanha, do resto praticamente não se houve falar, são países de importância menor (excepto no futebol claro). No presente acho que a Espanha é o país mais popular para os britânicos. O sonho de muitas famílias da classe média actualmente é comprar uma casa no sul de Espanha (estão baratas) e emigrar definitivamente para mais perto do Med e "vivir la vida loca!". Tá tudo a aprender espanhol, tá na moda. Ficaram foi um bocado espantados com o racismo no Santiago Barnabéu.
A Itália é outro estilo, bella vita mas menos vibrante e mais cara. De qualquer maneira em termos de moda os italianos dominam por cá, e em relação aos restaurantes o mesmo.

Por último, e voltando a um dos temas anteriores, a China. Está muito inglês já emigrado ou com planos de emigrar para lá. A ligação entre os dois países é cada vez mais forte, por via da economia, da tecnologia e também da cultura. Há acordos especiais entre as universidades que possibilitam esta "invasão" de estudantes chineses nas universidades inglesas, que em muitos casos as têm viabilizado financeiramente já que há menos estudantes ingleses e mais universidades. Uma colega da Lu só tinha indianos e chineses na turma, o que a desgostava bastante, diz que parecia que não tinha saído da Ásia.
Mas aparte isto os ingleses têm uma admiração bastante grande e respeito pela cultura tradicional chinesa (não pelo comunismo, claro!). Adoram as porcelanas, o chá, os décors e a filosofia. Quando estou com a Lu e por alguma razão conversamos com alguém inglês (principalmente velhotas) dizem-lhe frequentemente como gostam de viajar na China, como o país é bonito e blá-blá-blá. Pela Índia também nutrem uma certa admiração mas menos fascínio, penso eu. Enfim, nisto tudo também deve haver uma certa nostalgia do Império, como em muitos outros aspectos da sociedade britânica.

Uma reflexão à volta disto é que me parece que Portugal está a passar ao lado de muita coisa e a perder oportunidades de negócio. Em relação à economia por aqui está tudo super-atento ao que se passa no sudeste asiático (China, Coreia, Japão...), nas notícias há frequentemente referências a isso. Pode ser porque o Reino Unido está muito mais aberto ao Mundo do que nós actualmente, mas Portugal parece muito pouco "ligado" em termos empresariais (e consequentemente em termos sociais e culturais). Acho que o Cavaco tem razão nos mercados de exportação que indicou na entrevista ao Expresso de há 2 semanas atrás: Brasil, EUA, China e Rússia (não me lembro se mais algum). O que pensam vocês?

Highgate

Para terminar este post, que já bateu todos os recordes de tamanho, só um pequeno relato da minha visita ao cemitério de Highgate, no norte da cidade. Espanto? Fui lá mesmo só para tirar uma foto à sepultura do Marx, que viveu os últimos tempos da sua vida em Londres.


O que é que isto tem a ver com o resto do post? Não sei, mas acho que sim ;).

Abraço a todos,

Ni hao

PS1: Grande FCP, lá se safou, o Mourinho é amigo! Agora leva com o Onze das Caldas em Tóquio. O PC é que está um bocado entalado, tal como o seu amigo SL. Acham que ambos se safam ou é desta que desaparecem do mapa?

PS2: A empresa chinesa Lenovo, a maior produtora de computadores (hardware) da Ásia, comprou parte da IBM, ao que dizem para conseguir economias escala e mercados internacionais. Tornou-se na terceira maior produtora de computadores do Mundo (atrás da Dell e das "fusionadas" Hewlett Packard-Compaq) embora continue a usar a marca americana. A IBM diz que a partir de agora só se vai dedicar ao mercado de serviços de tecnologia onde estão os maiores lucros. As coisas estão a mudar... Relacionado com isto, já viram o filme-documentário "The Corporation", com o Michael Moore?

PS3: Querem banir os alarmes dos carros no Reino Unido porque dizem que perturba mais o sono das pessoas (e provoca más performances no trabalho e daí problemas na vida familiar (!?)) do que previne roubos. A solução é encontrar novas tecnologias. Que raio de discussão... E as estátuas de cera da Madame Tussaud com o Beckham e a Victoria vestidos de José e Maria no presépio de Natal? Como dizem os ingleses, bloody shocking and preposterous!

2 Comments:

Blogger serebelo said...

Longo, mas muito bom! Esta ideia do blog foi realmente muito boa e a concretização marabilhousa!
See ya

10:07 da manhã

 
Anonymous Anónimo said...

Curiously....

8:09 da tarde

 

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