D'APRÈS Um Vicente, algures entre LISBOA - LONDRES - XANGAI - BRUXELAS

segunda-feira, dezembro 20

Newcastle upon Tyne

My friends,

O regresso a Newcastle foi breve mas gostoso! Foi a primeira vez que lá regressei depois da minha cerimónia de graduação. Fez esta semana exactamente dois anos e, confesso-vos, deu-me um pouco de nostalgia do excelente ano que ali passei, um dos melhores desde que me lembro, em todos os aspectos!

Sexta de manhã fui passear pela área da cidade onde se localiza a Universidade de Newcastle (há uma outra na cidade chamada Universidade de Northumbria), estava quase tudo vazio porque já começaram as férias do Natal. Aqui vão algumas fotos do campus,



do edifício da associação de estudantes (que tem 3 andares, várias lojas e um sem número de serviços e núcleos),


do meu departamento (de Economia Agrícola e Marketing Alimentar),


e do pub onde costumava ir em algumas sextas feiras depois das 6, ponto de encontro dos portugueses e brasileiros a estudar na cidade - o nome é Goose (ganso), e mudou bastante o estilo da fachada recentemente!


Já com alguma fome e com bastante frio (as gélidas manhãs do norte de Inglaterra...) fomos (eu e a Lu) tomar um "continental breakfast" numa tasca onde os trolhas geordies costumam parar, e vejam bem a bomba proteica que nos foi servida:


Depois fomos dar um passeio pela cidade, queria ver se estava tudo na mesma! :) O edifício do "civic centre" continua no lugar,


e as ruas do centro também.



Numa das ruas principais da parte histórica (se assim se pode chamar) figura uma placa na fachada do café Blakes, que marca a presença de um dos nossos maiores escritores na cidade: o Eça de Queiroz. A placa foi inaugurada durante o ano de 2001/2002 por iniciativa do centro de Língua Portuguesa da Universidade de Newcastle, evento a que eu tive o prazer e previlégio de assistir.



Segundo se pode ler, os 4 anos que o Eça residiu no 1º andar deste edifício foram dos mais produtivos da sua carreira literária (1874-1879). A razão da sua estada em Newcastle deveu-se a ter sido nomeado Cônsul de Portugal na cidade, numa altura em que esta era um importante porto naval e uma das "capitais do carvão" da Europa. Suspeito que como a cidade era pequena (ainda mais o era no fim do séc XIX), o clima péssimo, e a atmosfera da cidade não muito cativante para uma figura mais habituada à sofisticação de Londres e Paris, o Eça se tenha "voltado mais para dentro" e para o trabalho, e posto de lado os diletantismos lisboetas.

A propósito disto, uma pequena reflexão. Isto de estar longe do país natal e num ambiente exterior menos familiar também ajuda a criar este efeito. Em mim, pelo menos. Relacionado com isto, fui outro dia fui ver um filme chamado "Before Sunset", sequela de um outro que passou há uns 10 anos atrás chamado "Antes do Amanhecer". Para além de achar ambos os filmes cinco estrelas, mesmo muito bonitos, houve uma ideia neste último que achei piada. A certa altura, numa conversa no café, a Julie Delpy conta ao Ethan Hawke que esteve em Varsóvia durante umas semanas e que foi uma experiência bastante peculiar. Não percebia nada do que estava escrito nos jornais, não entendia as pessoas, não entendia o que via na TV nem na publicidade. E durante esse período, com o seu mundo interior bastante desligado do que a rodeava, deu por si a pensar e a reflectir mais do que o normal em Paris, a olhar para a realidade que deixou para trás de forma mais crítica e clara. Principalmente não se sentia atordoada pelo bombardeamento constante de mensagens publicitárias, de estímulos dos media, etc... Isto fez-me lembrar que senti o mesmo quando estive na Hungria durante uns poucos dias (lembras-te, Barrigadura?), e em menor escala aqui em Londres. Aqui não se trata do mesmo porque entendo a língua e em parte a cultura, mas ainda é bastante diferente de Portugal e isso causa em mim algum efeito introspectivo. E vontade de comparar e comunicar. Quem tem beneficiado com isso é o blog! Conclusão: mau clima e ambiente estranho são factores positivos para a actividade intelectual :)

Voltando ao passeio por Newcastle, continuámos a andar e fomos parar ao quayside, a zona perto do rio Tyne. É nesta zona que se localizam os pontos mais emblemáticos da cidade, a ponte antiga (com um barco por baixo que, na verdade, é uma discoteca manhosa chamada The Boat),


a Millenium bridge (com um português ainda meio a dormir e cheio de frio, brrr...),



do outro lado do rio o Baltic Museum de Arte Contemporânea, localizado numa antiga fábrica de moagem de cereais,


e para terminar o Sage Concert Room, o mais recente projecto do Norman Foster que vai abrir em Janeiro na zona sul do rio (a Gaia ou Almada de Newcastle, chamada Gateshead), e inclui duas salas de concertos e uma grande sala de conferências.



Quanto a mim há poucos edifícios que tenha visto com um ar tão futurista, parece um verme gigante feito de vidro espelhado! É interessante que a cidade continue a evoluir e a mudar de um típico centro industrial para uma cidade moderna de perfil mais elevado. Ainda têm muito que fazer mas estão no bom caminho!

Para terminar, o principal motivo que me levou à capital do Nordeste de Inglaterra: o jogo Newcastle-Sporting. Comprei uns bilhetes sem ligar muito para a localização e acabei no meio dos adeptos do Newcastle e a ver a Juve Leo do outro lado do estádio. Escusado será dizer que eu e a Lu mantivemos o nosso low-profile o jogo todo (apesar do nosso lindo cachecol verde e branco estar bem à vista, obrigado ao SB), que estes tipos do Norte exaltam-se com pouco...principalmente com o futebol (os adeptos do Newcastle são conhecidos por Toons).




Em jeito de crónica desportiva, a qualidade do jogo foi um pouco fraca, e acho que principalmente por causa do Sporting - que pastelões!! Jogar com três centrais contra aqueles mineiros, que falta de ambição! Acho que tiveram medo de arriscar, já iam com a ideia de que o empate era um bom resultado apesar de dizerem o contrário para a comuniação social. Eu e os outros 99 adeptos leoninos no estádio é que não ficámos muito contentes! Temos claramente melhores jogadores, melhor equipa, melhor treinador (não porque o Peseiro seja um génio, mas porque o Souness é bem abaixo da média), mas de certeza pior atitude que o Bellamy & co. Alguns jogadores estiveram bastante bem, como o Enak, o Custódio, o Paíto, o Rocha (apesar de um pouco gordito) ou o Liedson. Mas o Pinilla, onde é que o gajo aprendeu a jogar à bola, que miséria, não acerta uma!? E o Tinga, como é que é possível correr tanto e produzir tão pouco jogo jogado? E o Rogério, parece que também lhe anda a dar bastante nos croissants como o Barbosa!! Espero que as coisas melhorem nos tempos mais próximos com o regresso do Martins e do Viana à equipa principal. O Benfica é que não parece ter grande salvação...

Ficam também algumas fotos do estádio (um dos maiores que vi em Inglaterra, talvez só o do Arsenal seja tão grande - depois escrevo mais sobre isto) e do bar do Shearer que vai abrir em Janeiro no edifício do estádio. Isto é que é saber preparar a reforma!




Voltei a Londres sexta à noite depois de uma viagem de 6 horas (Newcastle é mesmo a Bragança de Inglaterra...), e já me estou a preparar para chegar a Lisboa na terça.

E com a Eva e o SR, tudo bem, estão melhores? Comida da cantina, sacumé...

Abraços e até breve,

PS: Passou esta noite na TV um excelente documentário sobre a história do Projecto Live Aid em meados dos anos 80. Lembram-se da canção "Do they know it's Christmas?" que agora está aí outra vez, 20 anos depois? Pois bem, o Bob Geldof é sem dúvida um herói dos tempos modernos! Eu sabia alguma coisa das peripécias que o projecto envolveu na altura, mas não tinha ideia que o tipo afrontou directamente a Margaret Thatcher (que sendo formada em química não queria aceitar que a manteiga poderia ser enviada para África e consumida sem se estragar, e também não queria isentar do IVA o disco), o presidente da BBC da altura (que não queria pôr no ar a canção), os directores de alguns tablóides (que são uns cabrões de primeira!), mentiu às cadeias de discos para que comercializassem o single sem cobrar margens de lucro, ofendeu o ditador militar da Etiópia (chamou-lhe "cunt" na cara!) e discursou no Parlamento europeu a criticar de alto a baixo a PAC como uma das responsáveis pela fome na Etiópia e em África. A iniciativa tomou proporções e teve repercussões enormes na política internacional, mas começou de forma bastante espontânea, com o Geldof a telefonar aos amigos pop stars para gravarem uma canção de Natal! Já não via há muito tempo imagens dos 80's, de figuras tão marcantes quando era um jobenzito como os Duran Duran, Spandau Ballet, Status Quo, Bananarama, Boy George, Police, U2, Wham e por aí fora. Que roupas, meu Deus! Que penteados aqueles tipos tinham! Mas acho que uma das melhores coisas que os britânicos nos têm vindo a dar nos últimos 25 a 30 anos são estes cromos! Curto bué!!! Para além disso também foi interessante ouvi-los dizer que uma das coisas que mais os inspirou para transgredirem as convenções tradicionais foi o clima social dos anos 80: o Thatcherismo, a privatização de muitos serviços públicos, o enriquecimento de alguns e a pobreza de muitos, e principalmente os valores culturais dominantes da altura - a lei do mais forte, fazer dinheiro a qualquer custo, individualismo extremo and so on! E acho que a música (muitas vezes de péssima qualidade) e a atitude deles (sem nenhum pudor de mostrar tarem-se positivamente "a cagar no sistema", nas regras, mas ir sempre inovando no estilo) passou fronteiras e influenciou muita gente por toda a Europa (pelo menos em Portugal de certeza!). Curioso é que o Bob Geldof, sendo um dos menos marcantes artisticamente, foi sem dúvia o que mais marcou politicamente os últimos 20 anos juntamente com o super-Bono, claro!

4 Comments:

Blogger msg said...

Tive ontem uma agradável surpresa. Indo na esteira do Eça em Newcastle, dei com o Bruxeleando. Também estive em Newcastle,na School of Agriculture,Soil Department,nos idos de 65.Os anos que já lá vão.Também já tinha quase 40,já era casado e pai de filhos,que não me acompanharam. Pode calcular a idade que hoje tenho. Um dinossáurio,sem a vivência que vocês hoje têm. Não sei o que é um pub,ou coisa equivalente,e não bebo nem nunca bebi cervejolas. Mas adiante. Vivi em High Heaton,em casa de uns velhotes simpáticos. Convivi mais com um irlandês e um paquistanês. Nessa altura,Newcastle regurgitava de oversea students(é assim que se diz?,ai,este meu inglês).Gostei muito de ver as suas fotografias,sobretudo a da escola. Lá estava a porta por onde entrei durante seis meses,que foram os que a Gulbenkian permitiu. Algumas vezes tive de trepar até ao sexto,pois o elevador avariava. E algumas vezes encontrava o tampo da bancada coberto de fuligem,pois o aquecimento também tinha os seus dias. E pronto. Gostei muito deste relembrar.Mas quão diferente está a velha Newcastle de 65,quase como a do tempo do Eça. Que passe bem e que tenha lucrado muito com a sua graduação. Até um outro dia e muita saúde.

10:32 da tarde

 
Blogger amigavendebsb@gmail.com said...

olá. moro no brasil, estava buscando informações sobre new castle e encontrei as excelentes informações deste post. gostaria de saber mais sobre a cidade. se puder ficar em contato, agradeço.
um abraço. josi.

11:16 da tarde

 
Anonymous Anónimo said...

Ola, estou indo estudar em Newcastle e gostaria de pegar algumas dicas sobre a cidade. Vc poedria em enviar seu email? Obrigada, abs Erika
Email: erikkinha@yahoo.com

5:13 da tarde

 
Anonymous Filipe said...

Eu também estive em Newcastle a estudar por um período de 3 meses mas na rival Northumbria, através de uma bolsa Erasmus. Super engraçado ver como as coisas foram há muitos anos, há bastante pouco tempo e quando eu lá estive (2010). Muitas coisas são iguais e outras que se falam no futuro são para mim passado :)
E por entre tudo o mais, regressarei à cidade dentro de 2 dias para preparar a burocracia necessária para assinar contrato de trabalho. Face ao que li, certamente não serei o primeiro a fazer da jóia do Nordeste uma casa para tugas.

6:19 da tarde

 

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