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terça-feira, junho 7

As contas da Europa


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Olaré

Estando agora na ordem do dia o debate sobre o futuro da União Europeia, também eu quero dar um pequeno contributo para a divulgação de informação.
E, como o dinheirinho acaba sempre por ser o que realmente conta para a maior parte das pessoas (os putativos práticos e pragmáticos da vida!), o que interessa é saber quem é que está a pagar a festa, right!?!

De forma simples, as colunas do gráfico acima apresentado representam a contribuição líquida de cada país para o Orçamento da União Europeia em 2003 e só para os 15 países pertencentes antes do alargamento. Ou seja, a diferença entre o que cada país dá para o funcionamento das políticas e instituições comunitárias (1,... % da sua riqueza ou PNB), e o que recebe em subsídios (seja dos fundos de coesão e regionais como o FEDER, ou agrícolas a partir do FEOGA). A linha horizontal representa uma contribuição líquida de zero (dá-se tanto como o que se recebe) e olhando para o gráfico é self-evident quem mais contribui (Alemanha, Reino Unido e Holanda), quem mais recebe (Espanha, Grécia e Portugal) e quem nem é carne nem peixe (Áustria, Finlândia, Dinamarca...).

A diferença entre as colunas vermelhas e azuis tem a ver com o famigerado cheque britânico (ou rebate)! Este representa uma quantia de cerca de 3 putativos biliões de libras (!!!) que todos os anos a UE devolve ao Reino Unido, esse país tão especial, e que foi negociado/exigido pela Maggie Thatcher em 1984. Ora na altura isto fazia algum sentido, dado que a Inglaterra tinha uma economia mais fraca que a França ou Alemanha, muito menor superfície agrícola, e a mesma população, pelo que a sua contribuição líquida era desproporcionalmente grande e injusta.

Hoje em dia trata-se de um privilégio insustentável. O Reino Unido é a segunda maior economia da Europa a seguir à Alemanha, está com uma boa dinâmica,

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desemprego baixo, e para além disso houve o Alargamento com a entrada de dez países maioritariamente pobres. Portanto a Alemanha já não tem que ser pai, mãe e tio de toda a gente, chegou a hora dos brits fazerem concessões e acabar-se a brincadeira. Está certo que a Alemanha deu cabo da Europa há 60 anos atrás e que tem uma certa dívida moral, mas quando os países da Europa ocidental (por coincidência os mais ricos hoje em dia...) precisaram de se reconstruir tiveram o apoio dos EUA através do Plano Marshall. Hoje em dia parece que anda tudo esquecido quando falam acerca dos países de Leste, ninguém quer pagar a factura!

A França então, esse outro país especial, é mais um caso do caraças (tal como a Itália, são uns mimados!). Com o tamanho que tem contribui menos em termos líquidos para a UE que a Holanda (e o seu porto de Roterdão...), que é um país cerca de 4 vezes mais pequeno! Aqui também pode radicar alguma razão para o não holandês no referendo. E o que é que está a distorcer as coisas? Em grande medida é a PAC, não há grandes dúvidas, essa política tão cara aos franceses. E sem o cheque britânico Itália e França quase que nem contribuintes líquidos eram! Para quem sempre fala tão grosso na Europa...

Agora quem está mesmo mesmo mesmo a beneficiar com esta brincadeira é a Espanha, de longe o maior receptor em termos líquidos da UE devido à PAC e aos fundos regionais. Claro que só têm que votar SIM À EUROPA por mais de 70% em qualquer referendo que haja agora ou no futuro!!

Casos que me intrigam são os da Bélgica, Irlanda, Luxemburgo e Finlândia. Tudo países bastante ricos hoje em dia, com economias prósperas, desemprego baixo, pequeninos e na situação de beneficiários líquidos. Percebe-se por causa da estrutura das políticas comunitárias mas é um bocado estranho dado que em rendimento per capita PPP os 4 países estão entre os 5 ou 6 mais ricos da UE. Luxemburgo é o mais rico seguido pela Irlanda (quem a viu e quem a vê)! Acho que é uma situação que tem que ser revista no futuro próximo.

Com a discussão das Perspectivas Financeiras (ou seja, o putativo Orçamento da UE) para o período 2007-2013, é de prever que as negociações irão aquecer. As injustiças com certeza que vão continuar, vamos ver quem sairá a perder no futuro. Cá para mim não me admirava que Portugal saísse a perder, bem como os países de Leste que tantas esperanças alimentaram. A chave vai estar no que o Reino Unido e a Alemanha decidirem em relação ao cheque britânico, às políticas prioritárias a financiar e à % da riqueza que cada país terá que colocar no Orçamento da UE (1%?? 1,07%?? ou 1,14%??). Imaginem, neste contexto de aperto financeiro, o que é considerar a entrada da gigantesca, pobre, muçulmana e putativa Turquia! Os países contribuintes líquidos até devem entortar os olhos. Mesmo a Roménia e Bulgária não vão ser fáceis de digerir... Quem é que vai alargar os cordões à bolsa??

E o que acham vocês disto tudo, caros e putativos amigos?

Best putative wishes!

4 Comments:

Blogger serebelo said...

De volta á lide bloguistica. Bons olhos te leiam. Muito bom post, deveras informativo. Mas informa aí à malta o que se passará na tua vida nos próximos tempos. Para quando umvicentembruxelas.blogspot.com ? Hein?

10:17 da manhã

 
Blogger Um Vicente said...

A posição oficial deste blog em relação ao tema bxl é de não comentar. Quando houver notícias haverá.

Para mais info acerca dos tratados europeus vão ao website do Marcelo:
http://esim.eu.com
Eu acho que em vez de aparecerem sempre na tv as grandes figuras dando a sua opinião, o que a RTP ou outra tv podiam fazer era durante uma semana ou período mais alargado dividir a constituição em partes explicáveis e ocupar uma parte do jornal das 8 a apresentar e debater as propostas: dividir a introdução da carta fundamental dos direitos humanos na constituição e o seu impacto, da alteração do peso de cada país no Conselho e no Parlamento, das ideias federalistas de introduzir os cargos de presidente e MNE da União, da política de defesa, das contribuições para o orçamento, das várias políticas, etc...

E depois disto então ouvir os opiniosos explicar porque é que são pelo sim ou pelo não. Caso contrário é evidente que as pessoas nunca vão estar devidamente informadas para votar.

Na minha opinião pessoal acho que todos os países se deviam poder exprimir a opinião. Acho que interromper agora, da maneira como as coisas estão, já não adianta de muito. Depois de todos referendarem, debaterem, então ver quem está contra, os porquês e decidir o que se fazer a seguir. Mas não tenho grandes dúvidas que a construção europeia e o próprio alargamento vão perder uns bons anos com os dois nãos.

Em próximo post vou ver se escrevo alguma coisa sobre a estrutura do orçamento da UE. Em relação à situação interna em Portugal estou a apreciar a actuação do Governo: parece que estão a fazer uma coisa pouco habitual nos últimos anos, tomar decisões!

Até breve

4:32 da tarde

 
Blogger Sergio Barroso said...

Depois de ver melhor os dados eu digo-te alguma coisa, mas obrigado pelo "ponto de situação".
um abraço,
Francis

12:57 da tarde

 
Blogger Sergio Barroso said...

Já agora, tenho andado entretido a carimbar os meus livros com simbolos chineses. Foi uma excelente prenda.
obrigado,

12:58 da tarde

 

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