segunda-feira, maio 7
sábado, junho 24
quinta-feira, abril 13
Bucaresti II - os senhores Nicolae e Ião
A História da Roménia no pós 2ª Guerra é relativamente simples: domínio progressivo do comunismo e da União Soviética sobre o país. O apoio dos romenos ao Hitler durante a Guerra também não ajudou com os russos no lado oposto da barricada, e a segunda metade do séc. XX pode-se chamar um desastre em termos políticos e sociais (escaparam algumas figuras eminentes, pelo menos no desporto).
O Ceausescu só chegou ao poder em 1965, ao contrário de outros ditadores comunistas como o Hoxha ou o Tito que foram líderes comunistas e heróis durante a 2ª Guerra na luta contra os nazis e "reinaram" até à sua morte natural. O Nicolae era um miúdo diferente: já veio do aparelho do partido, cheio de sonhos de grandeza e mania de os expressar em termos urbanísticos e arquitectónicos. Ele considerava Bucareste uma cidade insignificante mas quis mudar isso e torná-la um símbolo das vitórias proletárias e da sua ambição. Como tinha um mau gosto gritante, as zonas da cidade que vêm desse tempo são uma tristeza (apesar das avenidas largas e espaços amplos, são os edifícios que dão verdadeiramente o "tom" sombrio) e vá lá que muita coisa do período antes de 1945 não foi abaixo. Consta também que costumava ir todos os dias visitar obras, em particular as do Palatul, e que quando não gostava de alguma coisa mandava destruir secções inteiras dos edifícios - era inginheiro, carago.... Eu não cheguei a ir aos subúrbios desta cidade de cerca de 2 milhões de pessoas, mas dizem que são dos piores exemplos do ex-bloco de Leste. Uma invenção surrealista deste tempo foi a de um engenheiro romeno que patenteou um método de deslocar edifícios inteiros sem os demolir (?) - autenticamente o método consistia em colocar edifícios "sobre rodas" e fazê-los deslocar. Segundo se descreve, os habitantes dos edifícios nem tinham que sair de casa, iam à boleia :)
O que veio a seguir também não foi muito melhor. O Illiescu, uma vez com o rabo sentado na cadeira, já de lá não quis sair apesar de ter garantido que fazia parte de um Governo transitório e ia haver eleições. Quando decidiu ele próprio candidatar-se em Março de 1990 mais uma revolta estudantil aconteceu (isto faz lembrar Tianamen...), mais uma vez os estudantes da Universidade de Bucareste se barricaram na Piata Universiatii desta vez durante 6 semanas a exigir a saída do Illiescu. Este Ião não esteve com modas e organizou a chamada "Mineriada": mandou chamar os mineiros (fiéis à revolução comunista) para dar cabo das manifestações e estes acabaram por matar mais de 100 estudantes, com o Illiescu a vir depois elogiar na TV essa classe ainda fiel à revolução! E não saiu do poder até 2004 (terá saído com a desilusão de não ter visto Portugal campeão da Europa?), o que também ajuda a explicar o atraso actual da Roménia em relação a outros países do ex-bloco de leste. Portanto, apesar das mudanças que ocorreram no país nos anos 90 com a introdução da economia de mercado, o investimento directo estrangeiro, a abertura ao ocidente e as negociações para entrar na UE (o que deverá acontcer em Janeiro próximo ou o mais tardar em 2008), o poder esteve até há 3 anos nas mãos de um grandíssimo sacana pelo que não se esperam milagres.
O país tem hoje em dia contrastes gritantes entre as áreas rurais, onde muita gente ainda anda de burrico (o mesmo que em Portugal em 86), e Bucareste onde já se vê muita riqueza material, multinacionais implantadas, bem estar, vida cultural intensa, etc... Ou seja há muito que fazer e vamos ver se a UE ainda vai ter condições de lhes dar uma ajuda valente como deu a Portugal e Espanha desde há 20 anos.
De qualquer forma, para aí desde os anos 30 do séc XX que as perspectivas de futuro não eram tão boas para estes lados!
segunda-feira, março 20
Bucaresti I - os senhores Vlad, Mihai e George
As minhas incursões pelo leste da Europa continuam! Começaram no já distante verão de 1996 na Eslovénia (lembram-se JES, MS, SM?) e já duram há cerca de 10 anos (juro que não tinha nenhum plano, a verdade é que as oportunidades foram aparecendo). Seguiram-se a Croácia, Hungria, Sérvia e Albânia. Não visitei ainda Hungria ou Eslovénia depois de terem entrado na UE, pelo que uma das memórias comuns que guardo de todos é a do estado de espírito que se sentia por lá: o de um tempo de transição entre um período da História e outro, e um misto de excitação e dúvidas pelo novo. Para os mais jovens novas oportunidades de vida e profissionais, poderem viajar e conhecer pessoal na Europa Ocidental desenvolvida/capitalista; para os de mais idade o receio de que o futuro não traga nada muito melhor e que não se adaptem, mas com esperança de que tudo seja melhor para as novas gerações. Mas um tempo de mudança, e como tal vibrante.
E sempre gostei da cultura, das pessoas que fui conhecendo muitas da minha idade/geração, a estudar e\ou trabalhar na mesma área que eu e alguns amigos foram ficando. Talvez vos pareça uma heresia, mas sempre achei que nós os portugas e a malta destes países do sudeste europeu temos várias parecenças: uma mistura de alegria, afabilidade e uma certa manha (às vezes em excesso...), mas também alguma melancolia. Na minha cabeça o estereótipo dos povos frios de leste por oposição aos povos calorosos do sul da Europa é falso ou tem mais a ver com os países bálticos, os russos ou os escandinavos do que com balcânicos - basta ter ido a um casamento ou uma festa para aquelas bandas. Deve ser porque há neles também muita influência da cultura mediterrânica, embora combinado com outras influências, claro. Mas nisto do leste há quase tanta diversidade entre estónios e albaneses como entre suecos e espanhóis! E tambem já me disseram para acabar com a treta do "leste": segundo um colega checo tanto o seu país como a Hungria são paises do Centro da Europa, e que o leste é a Ucrânia ou a Rússia. E tem razão, geográfica e objectivamente falando, mas a conotação das palavras demora tempo a mudar...
Desta vez vim parar à um pouco longínqua Roménia. Mesmo a partir de Bruxelas são cerca de 3 horas de viagem até Bucareste, portanto mais ou menos o mesmo que de Bruxelas para Lisboa. A primeira imagem que tive, a partir da janela do avião da TAROM, foi a de uma planície bastante extensa (até perder de vista) de terra agrícola. Era um domingo no final de fevereiro, e até à semana anterior tinha estado tudo coberto de neve branquinha (idêntico às fotografias do FCA de Janeiro no berra-boi) - o inverno por estas bandas continentais não é como em Brussels city, é bem mais agreste. A minha vinda coincidiu com o degelo, e entre o branco da neve e o verde da erva na primavera cabe um período intermédio de amarelo empalhado - tudo seco de uma forma que parece o sul da Europa no verão. Desde os arredores da capital até aos parques no centro quase só natureza morta, lagos na fase do degelo, mas as ruas cheias de pessoas a desfrutar um dia luminoso, de céu azul e promessa de primavera no ar.
Tem sempre piada chegar a uma cidade que não se conhece e ir deambulando e colhendo as primeiras impressões. Uma das ideias pré-concebidas que tinha dos romenos (a mesma que tinha dos albaneses, vá-se lá saber porquê...) era de serem maioritariamente de pele escura, meio ciganos e sempre com uma esponja e detergente na mão... Ouve-se muitas vezes falar da etnia cigana como populacao Roma, e pensava eu que Romania seria a terra dos Roma. Grande erro, na verdade 90% dos 22 milhões de habitantes do país são romenos, 7% húngaros e apenas os restantes 3% são Roma ou de outras etnias/nacionalidades. Isto para dizer que a maioria das pessoas são de pele bem mais branca que eu próprio, de ar eslavo (loiros e olhos azuis) - eu diria mesmo que o saudoso Laszlo "Je suis très content" Böloni ou o Timofte são típicos representantes da maioria dos romenos, tal como a Nadia "10" Comanesci.
O que nos une realmente a esta malta é a língua, de raiz latina e segundo dizem mais próxima do latim original que português, italiano, francês ou espanhol. É incomum para estes lados da Europa andar na rua e entender uma parte do que se lê nos cartazes, nas placas das ruas ou nas lojas - deste ponto de vista estar na Hungria ou na Albânia é quase o mesmo que na China! Passar por qualquer loja de roupa e ver escrito "Casa de Moda" têm que convir que é no minimo refrescante, embora boa parte do resto me passe ao lado! E isto é algo que os distingue de facto dos países em redor e que constitui um factor de identidade nacional forte.
A maior figura da cultura Romena, nascido na região da Moldávia, também é deste tempo: o poeta Mihai Eminescu já ouviram falar? É o poeta nacional, do período do Romantismo e símbolo do espírito romeno. Estudou numa cidade na altura do Império Austro-Húngaro, esteve na universidade em Viena e também em Berlim, e li que quando começou a publicar poemas mudou o seu nome original de Eminovici para Eminescu, para soar mais romeno... Marketing! Mas compreende-se porque foi um tempo em que a identidade da Roménia se estava a gerar, era preciso distinguirem-se dos eslavos, e para isso acentuaram a faceta latina na cultura. Mas sou da opinião que é difícil hoje em dia surgirem figuras tão multifacetadas como este tipo: poeta, escritor de prosa, tradutor, jornalista, director da biblioteca nacional, político e filósofo; interessado em lógica, história das religiões, sânscrito (!), Direito e super influenciado pelo Kant e Schopenhauer. Tão a ver o estilo... Tal como os nossos intelectuais da geração de 70 também ajudou a formar um grupo literário chamado "Sociedade Junimea" cujo motto era "Entra quem quer, permanece quem pode" e se destinava a promover a excelência na cultura e sociedade romenas. Morreu louco em 1889 num sanatório. Estou convencido que deve ter sido por ler demasiado Shopenhauer ;)
Quando chegou a 1ª Guerra, os tipos tiveram a sábia decisão de lutar contra os alemães, e quando se está do lado dos vencedores as coisas correm sempre melhor no pós-guerra. Com a desintegração do Império da Sissi e do FJ o território romeno foi alargado e passou a incluir a actual parte central, montanhosa e mítica do país, a Transilvânia. Bom para eles, provavelmente a partir do próximo ano vai-se assim tornar um dos maiores países da UE, só atrás dos chamados "grandes" (Alemanha, Itália, França, Reino Unido, Espanha e Polónia). A ampliação do país foi como que o regresso da antiga Dácia e o período de 1919 à 2ª Guerra foi o melhor período da sua História. Bucareste passou a ser conhecida por "Little Paris" (era moda na altura esta comparação com Paris, Xangai foi o mesmo a "Paris do Oriente"...) porque era a cidade da moda, bom gosto e da "belle vie". Eu não conhecia esta faceta porque sempre ouvi dizer que Bucareste era uma cidade muito feiota, estilo soviético puro e duro e bastante degradada depois do fim da ditadura comunista. Depois de 3 dias por lá não é essa a minha opinião. A cidade está de facto degradada, precisa de fundos estruturais europeus como de pão para a boca, but has more to it than you perceive at first sight.
Bom, e deixo este primeiro post sobre Bucareste por aqui com mais algumas fotos de Bucareste. Em próximos posts um bocadinho mais sobre o comunismo à romena, religião e quejandos!
A bien tôt!
domingo, fevereiro 5
Madeira - nas alturas
(1810 mt, não é o ponto mais alto da Madeira mas quase. É uma sensação curiosa estar acima das nuvens, parece algodão! No dia em que lá fui ainda havia neve no cimo. )
(E aqui está o superpoderoso senhor das névoas, o responsável por esta brincadeira!)
(Acesso a uma zona de planalto no centro-oeste da ilha. Se dissesse que era nas Highlands of Scotland acho que vocês acreditavam...só que em vez de whisky e pubs castiços há poncha da Madeira e Jungle Rain!)
(Ali em baixo no vale localiza-se o Curral das Freiras. O nome vem-lhe das freiras que fugiram do Funchal durante as invasões francesas e se refugiaram no meio da ilha. Até 1986 ninguém ali tinha TV e só com a construção de um túnel durante os anos 90 é que o local ficou mais acessível. O principal produto da terra é a castanha, que se usa para fazer um bolo típico e um licor que valha a verdade é uma bela zurrapa. Depois o que há mais é munhecos para começar na palhaçada)
terça-feira, janeiro 31
sábado, janeiro 28
Porto Santo
(Praia de Vila Baleira, capital da ilha. Estende-se por 9 km a longo de toda a costa sul. É a única praia de areia do arquipélago, totalmente vazia nesta época do ano)
(Leste da ilha, numa das zonas de maior altitude. No verão a cor dominante é o castanho ou cor de erva seca, agora está tudo verdinho. Eu e a Lu demos a volta à ilha de bicla, bué de fixe!)
(Antes do regresso ao Funchal, praia ao pôr do sol)