Bucaresti II - os senhores Nicolae e Ião
A História da Roménia no pós 2ª Guerra é relativamente simples: domínio progressivo do comunismo e da União Soviética sobre o país. O apoio dos romenos ao Hitler durante a Guerra também não ajudou com os russos no lado oposto da barricada, e a segunda metade do séc. XX pode-se chamar um desastre em termos políticos e sociais (escaparam algumas figuras eminentes, pelo menos no desporto).
O Ceausescu só chegou ao poder em 1965, ao contrário de outros ditadores comunistas como o Hoxha ou o Tito que foram líderes comunistas e heróis durante a 2ª Guerra na luta contra os nazis e "reinaram" até à sua morte natural. O Nicolae era um miúdo diferente: já veio do aparelho do partido, cheio de sonhos de grandeza e mania de os expressar em termos urbanísticos e arquitectónicos. Ele considerava Bucareste uma cidade insignificante mas quis mudar isso e torná-la um símbolo das vitórias proletárias e da sua ambição. Como tinha um mau gosto gritante, as zonas da cidade que vêm desse tempo são uma tristeza (apesar das avenidas largas e espaços amplos, são os edifícios que dão verdadeiramente o "tom" sombrio) e vá lá que muita coisa do período antes de 1945 não foi abaixo. Consta também que costumava ir todos os dias visitar obras, em particular as do Palatul, e que quando não gostava de alguma coisa mandava destruir secções inteiras dos edifícios - era inginheiro, carago.... Eu não cheguei a ir aos subúrbios desta cidade de cerca de 2 milhões de pessoas, mas dizem que são dos piores exemplos do ex-bloco de Leste. Uma invenção surrealista deste tempo foi a de um engenheiro romeno que patenteou um método de deslocar edifícios inteiros sem os demolir (?) - autenticamente o método consistia em colocar edifícios "sobre rodas" e fazê-los deslocar. Segundo se descreve, os habitantes dos edifícios nem tinham que sair de casa, iam à boleia :)
O que veio a seguir também não foi muito melhor. O Illiescu, uma vez com o rabo sentado na cadeira, já de lá não quis sair apesar de ter garantido que fazia parte de um Governo transitório e ia haver eleições. Quando decidiu ele próprio candidatar-se em Março de 1990 mais uma revolta estudantil aconteceu (isto faz lembrar Tianamen...), mais uma vez os estudantes da Universidade de Bucareste se barricaram na Piata Universiatii desta vez durante 6 semanas a exigir a saída do Illiescu. Este Ião não esteve com modas e organizou a chamada "Mineriada": mandou chamar os mineiros (fiéis à revolução comunista) para dar cabo das manifestações e estes acabaram por matar mais de 100 estudantes, com o Illiescu a vir depois elogiar na TV essa classe ainda fiel à revolução! E não saiu do poder até 2004 (terá saído com a desilusão de não ter visto Portugal campeão da Europa?), o que também ajuda a explicar o atraso actual da Roménia em relação a outros países do ex-bloco de leste. Portanto, apesar das mudanças que ocorreram no país nos anos 90 com a introdução da economia de mercado, o investimento directo estrangeiro, a abertura ao ocidente e as negociações para entrar na UE (o que deverá acontcer em Janeiro próximo ou o mais tardar em 2008), o poder esteve até há 3 anos nas mãos de um grandíssimo sacana pelo que não se esperam milagres.
O país tem hoje em dia contrastes gritantes entre as áreas rurais, onde muita gente ainda anda de burrico (o mesmo que em Portugal em 86), e Bucareste onde já se vê muita riqueza material, multinacionais implantadas, bem estar, vida cultural intensa, etc... Ou seja há muito que fazer e vamos ver se a UE ainda vai ter condições de lhes dar uma ajuda valente como deu a Portugal e Espanha desde há 20 anos.
De qualquer forma, para aí desde os anos 30 do séc XX que as perspectivas de futuro não eram tão boas para estes lados!