Os Bélgicos
Chéres Amis,
Bolas, que já era tempo de regressar à escrita!!
Bolas, que já era tempo de regressar à escrita!!
Isto de mudar de país e estabelecer-me num sítio quase totalmente desconhecido tem o seu quê de excitante, mas em muitos aspectos é uma seca! Aprender de novo onde fica o supermercado, a loja da esquina, o desenho das ruas, as zonas da cidade, conhecer os vizinhos, ligar a linha do telefone, da luz e do gás, pagar contas, ir ao banco...tudo isto consome bastante tempo e quase só serve para nos pôr em condições para nos dedicarmos às coisas verdadeiramente interessantes da bida. Num novo emprego também nunca se entra a todo o gás, é preciso conhecer as voltas às funções, aos edifícios e principalmente às pessoas! Criar rotinas sem nos deixarmos cair nelas.
Mas ao fim de um mês na terra dos bélgicos e de três semanas na minha própria casa (detesto viver em hotéis sem ser por razões turísticas!) começo a sentir-me adaptado e mais disponível. Duas coisas ainda me são muito estranhas: a língua francesa, que me custa enormemente a falar (sou um anglófilo sem retorno...), e a meteorologia. O conceito de verão que eu tinha foi completamente posto em causa em Bruxelas! Já ouvi a expressão "verão cigano" para caracterizar este tipo de tempo - há dias de uma invernia deslocada, outros de verão abafado e húmido com chuvadas quasi-tropicas e uns quantos dias primaveris pelo meio. Quem acha que o tempo em Londres é imprevisível que venha passar um mês de Julho a Bruxelas!
Nos próximos tempos vou escrever mais sobre a cidade e as minhas descobertas, mas hoje e para começar quero deixar um relato sobretudo fotográfico do dia 21 de Julho último - o Dia Nacional da Bélgica e feriado para todos. Em 2005 este jovem país fez 175 anos de idade (a História fica prá próxima) e as pessoas ainda demonstram um certo fervor nacionalista nas celebrações de rua que me parece já muito esbatido no nosso muy vetusto Portugal. Pelo menos nas celebrações do 10 de Junho, porque nas futeboladas vem tudo ao de cima!
E por falar nisso uma das coisas que temos em comum na era pós-Scolari com estes tipos é a mania de pôr bandeiras à janela. A foto abaixo foi tirada ao prédio em frente ao meu.
No centro da cidade decorreram as paradas do costume nestas situações, umas militares e outras populares.
(Olha o belo do penacho!)
(Parece que também gostam dos cabeçudos...)
Nas paradas ou cortejos que têm lugar todos os anos entre a Place Royale e o Jardin Botanique (quando vierem cá logo conhecem...), através de uma das artérias principais da cidade (a Rue Royale), desfilam diferentes grupos que não cheguei bem a perceber o que representam. Muitos deles devem ser de confrarias ligadas a grupos profissionais (antigas guildas) ou a grupos militares, mas a diversidade de estilos era tão grande que quase me pareceu o fungágá da bicharada. Mas foi surpreendente para mim observar o clima de paródia, de boa disposição e de vivacidade do puobo! Tinha uma ideia mais cinzentona dos belgas.
(estes devem ter estado nas trincheiras da 1º guerra...)
(Napoleão forever!)
E depois está sempre presente a nostalgia do antigo Congo belga, que já se chamou Zaire e agora dá pelo nome de República Democrática do Congo. Em Bruxelas as referências são inúmeras, como foi praticamente a única colónia que tiveram não se dispersam muito. Num dos principais museus do centro está uma exposição chamada Kinshasa, la ville imaginaire, em que bem tentam puxar pela cidade mas a fotos mais parecem de um cenário de guerra.
A banda que está a tocar na foto chama-se "Fanfarre Kimbangiste" e a música era mesmo muito boa. Melhor em bandas de sopros só mesmo ouvir os ciganos kusturicas em Belgrado! Kimbanigsta vem de um tal de Simon Kimbangu que era um profeta negro que viveu no Congo na época colonial e foi preso durante 30 anos pelos belgas por professar as crenças baptistas. Não teve a mesma sorte do Mandela e morreu na prisão, tendo sido um dos factos de levou à revolta nacionalista. A música é portanto religiosa e única da igreja kimbangista, que se define como igreja cristã de raízes africanas. Ok, mas o que interessa é que a música é gira!
No entretanto apareceram uns tipos com este cartaz a pedir um minuto de silêncio pelos 4 milhões de mortos no Congo em virtude dos conflitos armados. Os tipos estavam paradinhos, bem comportadinhos e para surpresa minha a polícia belga veio e obrigou-os a deporem o cartaz e a irem passear para outro lado. Achei um exagero e montes de gente que estava a ouvir a música começou a reclamar com a polícia. A justificação foi que o cartaz estava fora do espírito do dia. Pudera, o regime belga do Congo não foi nem de perto uma das obras primas da colonização europeia, é melhor não lembrar as partes más e as suas consequências...
Esta dos ciclistas é que não apanhei, mas ok pareciam todos felizes da vida.As próximas fotos são dedicadas à Política Agrícola Comum e ao progresso tecnológico (com ou sem plano/choque).
No fim das celebrações foi tudo para as bjecas, sem as quais a vida simplesmente não é possível por estas terras.
Au revoir por hoje!