D'APRÈS Um Vicente, algures entre LISBOA - LONDRES - XANGAI - BRUXELAS

quinta-feira, março 10

A importância dos nomes

Oi

Neste post vou fazer uma transcrição de uma página do livro que estou a ler por estes dias. Chama-se "Notes from a Small Island", foi escrito por um americano que já vive em Inglaterra há 20 anos de nome Bill Bryson, e relata uma viagem de sete semanas que ele fez pelo Reino Unido. Eu tenho partido o coco a rir com a forma como ele olha para as peculiaridades dos brits, e partilho convosco este excerto (em inglês, desculpem os que não lêem bem esta língua mas não tem piada traduzido para português):


"There is almost no area of British life that isn't touched with a kind of genius for names. Just look at the names of the prisons. You could sit me down with a limitless supply of blank paper and a pen and command me to come up with a more cherishably ridiculous name for a prison and in a lifetime I couldn't improve on Wormwood Scrubs or Strangeways. Even the common names of wildflowers - stitchwort, lady's bedstraw, blue fleabane, feverfew - have an inescapable enchantment about them.

But nowhere, of course, are the British more gifted than with place names. There are some 30,000 place names in Britain, a good half of them, I would guess, notable or arresting in some way. There are villages without number whose very names summon forth an image of lazy summer afternoons and butterflies darting in meadows: Winterbourne Abbas, Weston Lullingfields, Theddlethorpe All Saints, Little Missenden. There are villages that seem to hide some ancient and possibly dark secret: Husbands Bosworth, Rime Intrinseca, Whiteladies Aston. There are villages that sound like toilet cleansers (Potto, Sanahole, Durno) and villages that sound like skin complaints (Scabcleuch, Whiterashes, Scurlage, Sockburn). In a brief trawl through any gazetteer you can find fertilizers (Hastigrow), shoe deodorizers (Powfoot), breath fresheners (Minto), dog food (Whelpo) and even a Scottish spot remover (Sootywells). You can find villages that have an attitude problem (Seething, Mockbeggar, Wrangle) and villages of strange phenomena (Meathop, Wigtwizzle, Blubberhouses). And there are villages almost without number that are just endearingly inane - Prittlewell, Little Rollright, Chew Magna, Titsey, Woodstock Slop, Lickey End, Stragglethorpe, Yonder Bognie, Nether Wallop and the unbeatable Thornton-le-Beans (Bury me there!). You have only to cast a glance across a map or lose yourself in an index to see that you are in a place of infinite possibility.

Some parts of the country seem to specialize in certain themes. Kent has a peculiar fondness for foodstuffs: Ham, Sandwich. Dorset goes in for characters in a Barbara Cartland novel: Bradford Peverell, Compton Valence, Langton Herring, Wootton Fitzpaine. Lincolnshire likes you to think it's a little bit off its head: Thimbleby Langton, Tumby Woodside, Snarford, Fishtoft Drove, Sots Hole and the trully arresting Spitall in the Street.

It's notable how often these places cluster together. In one compact area south of Cambridge, for instance, you can find Blo Norton, Rickinghall Inferior, Hellions Bumpstead, Ugley and (a personal favourite) Shellow Bowells. I had an impulse to go there now, to sniff out Shellow Bowells, as it were, and find what makes Norton Blo and Rickinghall Inferior. But as I glanced over the map my eye caught a line across the landscape called the Devil's Dyke. I had never heard of it, but it sounded awfully promising. I decided on an impulse to go there."


Quem quiser contribuir com nomes esquisitos de aldeias e vilas portuguesas faça favor de comentar, não devem faltar exemplos caricatos!


Hugs from Hanworth

domingo, março 6

East End

Dilecto(a)s

Numa das minhas explorações da cidade de Londres fui parar a uma zona conhecida como East End. Extremo leste porque há umas dezenas de anos atrás era onde a cidade terminava, para lá da qual eram lindos campos verdes, vaquinhas autóctones e umas vilazecas à distância. Hoje as coisas mudaram, as "conurbações" impuseram-se e é tudo urbe com uns parques pelo meio. A estória é a mesma que a de Massamá, ainda me lembro de quando fui para lá morar se tinha que atravessar um morro e uma extensa zona de pasto até chegar à estação de comboios de Barcarena e apanhar o comboio para o Rossio. Até meados/fins dos anos 80 Massamá era uma terreola pequena, até o Pimenta & Rendeiro darem uma volta à questão... E hoje é o que é: 30 mil habitantes engalfinhados uns nos outros cm muitos carros pelo meio!!

Ora os Pimentas & Rendeiros de cá também fizeram o mesmo tipo de trabalho, menos em altura, menos à pato bravo, mas o mesmo efeito de transformação (semi-rural em excessivamente urbano??). Tradicionalmente o east end era a zona onde moravam os trabalhadores das docas, das indústrias pesadas, e nunca foi zona muito recomendável: zona do PUÔBO! Com o fim dos regimes coloniais começaram também a "pintar no pedaço" hordas de imigrantes vindos de vários pontos do Mundo (no caso de Massamá, principalmente dos PALOP). Num museu desta zona encontrei um poster com a importância relativa das várias nacionalidades que ali habitam:

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Para além dos ingleses, quem vive no east end em maior número são os Bengalis (do Bangladesh e da Índia), Nigerianos, Paquistaneses, Irlandeses e Árabes. No fundinho também se vê a bandeira de Portugal, pequenos mas sempre presentes!
As fotos que se seguem foram tiradas em ruas no borough de Newham, entre West Ham (a leste do east end) e a fronteira com a City de Londres (a oeste do east end). Mostram um pouco da atmosfera do local e dalguns aspectos característicos das várias culturas.

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(loja de Kebabs dos turcos)

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(Saris dos Hindus)

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(Muçulmanas num mercado local a comprar tecidos, só os olhos estão descobertos)

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(centro comunitário dos sikhs)

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(os Sikhs, homens sempre de turbante e barba longa)

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(nham, nham... comi nesta tasca árabe as melhores chamuças da minha vida!!)


Curti bastante a manhã que passei "imergido" nesta zona. Senti-me ainda mais no estrangeiro do que noutras partes da cidade, mas é giro conhecer zonas menos percorridas e divulgadas.


Uma das questões políticas mais debatidas hoje em dia por cá é o multiculturalismo da sociedade britânica, e os problemas decorrentes da integração (ou falta dela) das minorias. Outro dia deu um documentário bastante interessante no channel 5 acerca do que é ser britânico hoje em dia. O documentarista era um sikh escocês, nascido em Glasgow e com pronúncia de William Wallace que ia perguntando às pessoas na rua se achavam que ele era britânico ou não. A maior parte dizia que não, alguns que voltasse para a terra dele (o pai era paquistanês e a mãe do quénia, onde é que será a terra do tipo??), e ele dizia sempre que torcia sempre pela Escócia no torneio das 6 nações e que se sentia tão brit como os brancos embora usasse turbante e barba. Com muito humor à mistura foi falando com outros britânicos filhos de emigrantes e foi tentando compôr um retrato actual, que com certeza é similar ao da maior parte dos outros países da Europa (incluindo Portugal).

E assim termino por hoje.


Tchau e abraços

NV


PS1: Porto
Nas últimas semanas tivemos um problema de saneamento na minha rua. O cano de esgoto entupiu e podem imaginar o efeito que teve nas casas de banho... E é nestas situações que o espírito de vizinhança se fortalece (unidos venceremos, mesmo as ameaças mais pútridas!). Os nossos vizinhos do lado vieram esta semana bater-nos à porta e convidaram-nos para ir a casa deles conversar um pouco. Ficámos a saber que são um casal porreiro, o marido um geordie de Newcastle e a esposa uma mexicana de la ciudad de méjico. Depois de trocarmos umas ideias sobre o que fazer, perguntaram-me de que país eu era (por mais que queira não me consigo fazer passar por inglês...). Quando eu disse Portugal o meu vizinho Newcastelense disse que se tratava de um país muito importante para ele! Eu olhei para o senhor e disse imediata e precipitadamente "because of the Chelsea coach, right?". Estupidez, devia ter olhado para a mesinha perto do telefone onde estava um galhardete do Manchester United. Furthermore, ele fez-me perceber que o futebol nunca seria razão para ter um sentimento tão forte em relação a um país, e disse uma palavra com quatro letrinhas apenas e os olhos a brilhar: "Port!". Agora percebo o que um produto de qualidade pode fazer pela percepção de um país!! O tipo diz que está sempre atento às secções de vinhos dos supermercados e das lojas da especialidade, e quando vê um vintage de um bom ano compra imediatamente. Afinal os ingleses não é so bjecas, há muitos que também se dedicam a enobrecer a sua adega privada. E não há dúvidas que o vinho do Porto é um dos mais fortes laços de união entre o Reino Unido e Portugal. Temos que ver é se lhe impingimos mais coisas ;-)


PS2: Bombaim
Descobri outro dia num documentários que o nome da cidade indiana de Bombaim foi dado pelos portugueses. O nome vem do português "Boa Baía", como sempre relacionado com questões de navegação. O que eu também não sabia é que os indianos mudaram recentemente o nome da cidade para "Mumbai". E assim se vai lentamente erosionando o legado da cultura portuguesa na Ásia...